Quarta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de texto de reflexão da historiadora, professora universitária, poeta e escritora de Dourados (MS), Joana Prado Medeiros, com seu "Diário de uma Idosa 234".
A LEI DO DIVÓRCIO...
Fazia um frio enorme. Era dia 26 de Maio de 1978 véspera do meu aniversário. Ouvi a tarde toda o meu disco preferido Falso Brilhante da Elis Regina. Ao anoitecer parti a pé para faculdade. Vestida com toda sorte de blusas de lã. Calças de veludo cotelê, casacão verde musgo de pura lã, botas, boina, echarpe e os cambaus. Fui faceira da vida estava prestes a completar 21 anos, a alegria da maior idade gritava sem dó e piedade. Era uma sexta feira, naquele tempo, não havia o tal sextou porém, contudo e todavia havia um sambão no barzinho da moda na minha cidade. Qual o quê!? Nem esperamos as aulas terminarem e partimos para o furdunço. Quando bateu as doze badaladas noturnicas o dia 27 de maio saltou feito um Touro na arena. Cantamos os parabéns para mim e brindamos a LEI Nº 6.515, de 26 DE Dezembro DE 1977 a lei do divórcio. Eu e o Italianin finalmente, iríamos realizar o casório. Bebi, cantei e dancei. Na avenida, ergui uma bandeira branca gritando liberdade aqui me tens. A sensação de alforria era imensa nunca esquecerei. Sai do local carregada e os amigos seguravam a minha cabeça na janela do carro para tomar vento e melhorar o porre, o frio era imenso, caia geada. Chego em casa bêbada e dou de cara com meu pai que havia chego do trabalho. Veio para almoçarmos juntos e celebrar o nosso aniversário, minha alegria ao vê -lo não tem como descrever. Meu pai ficou assustado e disse Nina que horror, o que você fez? você bebeu e chega essa hora!!! Eu nem sei o que disse, mas recordo a minha mãe muito brava, feito uma jaguatirica pantaneira, ela dizendo eu não vou cuidar dessa menina. Tudo bem, a casa ficou em silêncio e eu resolvi tomar um banho. Assucede que molhei a cabeça (tinha os cabelos curtinhos, achei podia) o fato é que fui dormir com os cabelos molhados, enrolados com uma toalha. Acordei com o maior febrão, e com pneumonia dupla, fiquei hospitalizada por doze dias. Aos vinte e um anos tive a primeira pneumonia de uma série de centenas. Levei anos para recuperar "parcialmente" Volta e meia o meu pulmão aparece me dizendo coisas, na época, tive que ir para o Hospital das Clínicas em São Paulo em busca de sobrevivência. Atualmente, driblo as mazelas, de tempos em tempos digo trinta e três e respiro devagarito. As vezes choro de pulmão como se fosse uma tarrachinha de brinco que perco e acho novamente na caixinha da minha responsabilidade/irresponsável. O Italianin, não nos casamos, ele partiu, é o ar da estrela que me vê e que tanto amo. Sabe, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. E essa canção é o hino da minha vida.
(Joana Prado Medeiros - 17/09/2024 - Direitos Autorais Lei 9.610/98)
Parabéns pelo belo texto.
Sandra de Souza
Lisboa - Portugal
❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️
Belíssimo texto.
Pedrosa de Lima
São Paulo SP