Texto - Tudo passa, por Inorbel Maranhão Viégas
- Alex Fraga
- há 2 horas
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Sábado no Blog do Alex Fraga é dia de texto poético com o jornalista, poeta e escritor de Brasília (DF), Inorbel Maranhão Viégas, com "Tudo passa".
Tudo passa
Manhã de sol. Quarta-feira. Brasília.
A rodoviária do Plano Piloto segue sendo o elo entre os vários mundos que habitam esta cidade. Pensada para unir a plebe rude, o trabalhador e o poder em um mesmo espaço, ainda que seja por uns poucos instantes, ou, às vezes, por muitas horas.
As pessoas passam quase sempre apressadas. O dia começa contra o relógio. Ônibus avançam e freiam bruscamente. Diálogos sonolentos nas filas para embarcar. Café da manhã comprado no pé da escada rolante. Pressa para seguir. Pressa para engolir. Fome e sono permeiam os olhares de quem chega e de quem vai.
Tudo passa.
Nada fica parado. Nada se mantém intacto. Vestígios de gentileza à beira do sinal. Uns cedem passagem. Outros, nem aí. É essa soma de variedades humanas que compõe o corpo vivo das ruas e avenidas. Planalto Central do Brasil. Coração da capital federal. E, no entanto, poder e glória se diluem como vapor no ar.
Tudo passa.
Exatamente como diz a letra da música de Nei Lisboa. Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada. E enquanto gentes e carros se cruzam sem perceber o sinal fecha. O aglomerado humano que espera – numa mistura de impaciência e resignação – começa a travessia.
Veem o homem de toca, a mulher de cabelos longos, o estudante, a policial, o ciclista, a vendedora de pães, a menina com fones de ouvido, uma senhora que puxa o filho pelas mãos, o menino sem pressa alguma, o executivo engravatado. Os carros parados. De dentro deles, os motoristas olham sem ver nada. Apenas o relógio e a angústia para que o verde apareça de vez.
Antes que o fluxo siga, um varal de roupas ocupa a faixa de pedestres. Seguido por um carrinho de merendas caseiras. São os últimos na travessia. Tudo passa. Talvez você passe por aí.
Inorbel Maranhão Viegas
Brasília 04/06/25
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