Sábado no Blog do Alex Fraga é dia de texto com o jornalista, poeta e escritor de Brasília (DF), Inorbel Maranhão Viegas, com Total solar eclipse.
Total solar eclipse
Minha irmã me escreve do Texas. Já é tarde pra mim.
Eu durmo cedo. E acordo cedo. Sou da madrugada.
Minha irmã aprendeu a ser caçadora de eclipses com Marcelo, seu companheiro de vida.
No começo, ela ia pro mundo, pela paixão dele. A astronomia sempre seduziu os olhos de Marcelo. Do mesmo jeito que Isa, minha irmã, seduziu o seu coração.
Mas o tempo e as voltas que ele dá são inexplicáveis. Como também é inexplicável o amor pelo céu e as estrelas.
Então, vejo agora no meu despertar que céus e estrelas conquistaram lugar especial na vida de minha irmã, também.
Já experimentei essa sensação de olhar pro alto na escuridão. Não durante um eclipse. Quando fiz isso, estava no meio do mato, no sítio Lavrinhas, em Pirenópolis.
Tinha me recolhido com minha preta para fugir da pandemia, na ânsia de viver uns dias sem máscaras e escrever.
Numa daquelas noites em que estivemos lá, pusemos o colchão na varanda. Estava frio. Nos abraçamos e ficamos em silêncio, olhando pro céu.
A noite era limpa. Não havia luz a não ser a da lua e das estrelas. Vimos como é belo o campo de estrelas no céu. Compostela em nosso caminho. Na terra e lá no alto.
E tivemos uma epifania do infinito.
Me dou conta agora da paixão que move os astrônomos. Compreendo melhor as voltas que Marcelo e Isa deram no mundo em busca de ver de perto a singularidade de cada eclipse. E, olha, eles já tem alguns em sua coleção de olhar!
Era tarde quando minha irmã me escreveu, lá do Texas. E eu só vi há pouco. Mesmo assim, o que ela escreveu traduz com exatidão o brilho nos olhos dela por estar presente naquele lugar, olhando de perto o dia virar noite, pra em seguida virar dia de novo.
Minha irmã é apaixonada pelo Marcelo. E, me assalta uma certeza, então: A astronomia alcançou seu coração.
Inorbel Maranhão Viegas
Brasília, 09/04/24