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Poesia - Sem hora para a lua, por Isaac Ramos

Segunda-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com o professor universitário, escritor e poeta Isaac Ramos (Alto Araguaia MT), com o poema Sem hora para a lua.


SEM HORA PARA A LUA


Lua, metáfora em luz,

Musa birrenta de poetas clássicos.

Acreditas que ainda causas encantos?...

Não consegues mais arrumar casamento.

Nem com dotes.

Nem o sol lhe aguenta.


Quando enorme, a gema inteira

Não cabe em si.

Não vale a pena em qualquer lente.

Fresca, atrevida, permissiva,

Foi-se o tempo em que eras margarida.

Hoje sequer baixas guarida.

Outrora metáfora aurífera,

Hoje pingente de souvenir.

Não adianta.

Os apaixonados suicidaram-se

No século dezenove.

A magia acabou.

Não mais existe o casto,

Mas permanece o incesto

E fica o incerto.


Lua, metáfora atrevida,

Cata teu brilho e vá brilhar em outro lugar!

As pessoas aqui são volúveis.

As mulheres ainda são musas,

Só que de Instagram, Facebook e WhatsApp.

Os rapazes antes finos.

Agora fitness. Descansam o cérebro

E celebram os músculos nas academias.

(Não de letras, é claro!).


Anda!... Não há likes pra ti.

Há para debates infindos,

Para abates e massageio de egos,

Para a santa ignorância,

Para o pouco verbo.

Ninguém mais escreve cartas.

Ninguém telefona para ouvir a voz do outro.

Ninguém visita para dar um abraço.

Apenas conectam-se, mutuamente.

As mãos, antes entrelaçadas,

Agora perdem-se nas partes íntimas dos teclados.


Alguém manda nudes da lua?

Não. Lua, para com isso.

Você tem régua de existir

E ciclos de existência.

Deixe-me só com minha pena.

Saia de mim tão somente...

Apenas!



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