Poesia - Queria ser um rio, por Paulo Portuga

Quarta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com o professor, poeta, compositor e escritor de Dourados (MS), Paulo Portuga, com "Queria ser um rio".

QUERIA SER UM RIO

Se eu fosse um rio,

Queria atravessar uma aldeia

Cheia de crianças sorridentes,

Que pulassem em minhas águas,

Espirrando gotas brilhantes,

Molhando a samambaia

Debruçada no barranco.

Queria ser um rio

De águas cristalinas,

Para matar a sede dos animais,

Que abrigasse plantas verdinhas,

Peixes coloridos de todos os tipos,

E servisse de caminho para ribeirinhos

Para levá-los para outro lugar.

Queria ser um rio;

Não precisa ser extenso,

Ao ponto de me colocarem barragens,

Obstáculos para o meu destino;

Nem muito pequeno,

Mas que tivesse cachoeiras

E antas nadando sob o luar.

Queria ser um rio

Onde ocorresse a piracema,

Bom para pescar de canoa,

Manso, com remanso,

Perto do pé da figueira

Que faz a folha, boiando, rodar.

Queria ser um rio

Para brincar como serpente

Entremeando o Pantanal,

Sinuoso, ligando baías e lagoas,

Recebendo afluentes de águas correntes

Que descem da Serra do Amolar.

Queria ser um rio

Livre de esgoto,

Para banhar a cabocla

Deixando o seu corpo moreno boiar.

Que mergulha em mim

Para as pedrinhas do fundo pegar.

Queria ser um rio

Onde a chalana desliza,

Que cresce com a chuva,

Abraçando a mata ciliar.

Fertilizando plantações,

Garantindo àquela gente humilde

O alimento e o prosperar.