Poesia - Nascimento, por Raquel Naveira
- Alex Fraga

- há 18 horas
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Quinta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poema especial em dia de Natal com a escritora e poeta de Campo Grande (MS), Raquel Naveira, com "Nascimento".
NASCIMENTO
Raquel Naveira
Como terá ela sabido que gerava aquele filho?
Aquele filho que crescia em seu ventre
E era homem,
Luz,
Pássaro?
Dizem que o anjo Gabriel lhe dera a notícia,
Como terá aparecido esse anjo,
Em forma de sol,
De facho de estrelas?
Como seria sua voz?
O tom da sua voz?
Como a voz da gente
Quando anuncia por dentro que se espera um filho?
E José?
Como José julgou Maria sabendo de seu segredo?
Se um pai é louco por seu filho
Como não seria ele por um filho divino,
Por um espírito que refletiria nos olhos o azul da manhã?
E a cidade?
Como reagiriam os homens se soubesse a verdade?
Apedrejariam Maria
Como adúltera?
Salgariam a terra pronta a dar frutos rebeldes
Porque seriam amargos para a tirania?
Como terá sido aquela viagem?
Maria grávida no lombo do burro,
O sol calcinando o cascalho...
Quanto trabalho,
Quanta luta
Para um homem e uma mulher saberem
O sacrifício de terem um filho.
Como terá sido aquela noite?
Quais astros crepitavam com mais força?
Qual cometa iluminava com seu rabo de prata?
Escorreria neve pelas palhas da manjedoura?
Manjedoura... um lugar para cavalos, vacas, montes de feno,
Manjedoura... seria um bom lugar para se dar à luz uma criança?
Talvez...os animais têm calor,
Olhos contemplativos
E trazem o campo dentro de si,
Ruminado e seco;
Maria teve um filho na manjedoura,
Terá sofrido dores?
Terá visto o bebê saltar para o mundo
Sem que nada pudesse impedir sua trajetória até a cruz?
Terá sentido, ao primeiro choro do menino,
Que o pranto jamais lhe sairia da garganta?
Ela o terá ninado,
Acarinhado,
Envolvido?
Com que canto,
Com que gesto,
Com que tiras de pano?
Terá ficado assim
Uma mistura de judia e santa?
E os magos?
Vieram de terras distantes
Em tapetes voadores?
Trouxeram presentes:
Mirra,
Incenso,
Ouro;
Ajoelharam-se diante do rei
Nascido na pobreza,
No cheiro de estrume.
Como terá sido aquele momento
De nascimento e plenitude?
Em que dia e mês do ano?
Era inverno?
A todo instante nascem meninos pelos antros,
Pelos becos,
Pelas favelas,
O milagre se revela,
Intenso
E a humanidade não se curva,
Não se eleva.





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