Segunda-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com o poeta, escritor e professor universitário, Isaac Ramos (Campo Grande MS), com seu poema intitulado Dedos no Vinho.
Dedos no Vinho
Teus dedos percorrem as bordas da taça de vinho E massageiam feito puro cristal Teus dedos deslizam pelos contornos A ponto de roçar o cinzel de carne Teu suspiro trespassa a tela líquida Até que engata um cúmplice sorriso Que dardeja gotas de tinto Na comunhão de dedos que roçam o céu.
Por tanto tato sinto teu olfato Por tanto olfato sinto teus sons Por tantos sons escuto tua música E diante de tanta música não escuto teus palavrões.
Sinta como a brisa atiça teu peito Atiça teu desejo em salivas que alisam Morda os lábios molhados de tinto No escuro vão do úmido cristal Passe a língua na haste de vidro E no robusto bojo rebusca teus instintos.
Faça o instante permanecer único Balance lentamente teu recipiente Sinta o toque do pulso replicante E molhe-se do doce líquido abundante.
Degusta o instante como se sorvesse um olhar Sirva-me outra taça cheia de seiva E prova na tua boca nosso gosto de mel. Teu corpo branco é fino cristal Que desfalece em espasmo final Enquanto tomba a taça em brancos lençóis A imagem pura dos nossos corpos tilinta um ritual.
Novamente tua taça é enchida de gotas úmidas E, suavemente, asperges gotas tintas de vinho Teu sal purifica nossos corpos Que até parecem ter sido banhados de sol Teus olhos lacrimejam por uma nova dose Então bebemos o fogo fátuo do céu.
Anda, espreguiça teu corpo sobre nossa tela. Para que o rascunho do teu sonho Não borre de pranto essa imensa novela.
E a volúpia dos maduros versos Entendem-se sobre nosso leito de papel Rasga tuas roupas em cima dos meus versos Que puídos de desejos controversos Fazem marola de vinho tinto embebido Em torno de um único véu.
Corra. Teu corpo ruge um mudo silêncio Que se arrepia diante do verbo Solta esse grito silente de mistério E oculta teu êxtase de ave. Na maior parte do tempo, A poesia se inebria é de vento E não de vinho tinto.
(Livro TEIAS E TEARES, 2014, p.23-24)
Que primor de poesia!
Fui ao céu e desci ao inferno
Embriagada pela poesia.
Parabéns poeta!