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  • Foto do escritorAlex Fraga

Opinião – Zacarias Mourão: 30 anos sem o artista e data é esquecida!

Muitos artistas sul-mato-grossenses morrem e no instante é uma comoção geral. Isso ocorreu a pouco tempo com o grande sanfoneiro Dino Rocha, que alias não foi valorizado como deveria pelos que comandavam a cultural sul-mato-grossense. E assim o tempo vai passando e ficam apenas lembranças na mente das pessoas que realmente gostam do trabalho artístico. Se formos nomear os “esquecidos” pós-morte em Mato Grosso do Sul, não terminaria esse texto.


O exemplo claro da pouca importância e o descaso (até mesmo pelos órgãos de imprensa), é que exatamente há 30 anos, no dia 23 de maio de 1989, morria nada menos do que Zacarias dos Santos Mourão – o “Zacarias Mourão”, o ilustre filho da cidade de Coxim. Mais conhecido pela composição “Pé de Cedro” com seu parceiro Goiá. Também “A Matogrossense” entre outras que são cantadas até nos dias de hoje por todos que gostam da música regional sul-mato-grossense.


Para quem não sabe, a biografia desse grande artista foi bem escrita por Sandra Cristina Peripapo que diz que ele passou a infância na igreja, onde se tornou coroinha ao lado de Padre Chico, que o apelidou de Tió, nome de um pássaro danado. Aos 15 anos, o menino decidiu ser padre e mudou-se para Campo Grande, onde fez dois anos de seminário, mas percebeu que não tinha vocação para o sacerdócio e resolveu deixar de lado a batina. Zacarias entrou para a Aeronáutica e depois, aos 21 anos, foi estudar em Petrópolis/RJ, mas a vida por lá não agradou. O rapaz passava a maior parte do tempo trancado em um quarto, escrevendo sobre Coxim.


Resolveu morar em São Paulo, onde entrou para o DER (Departamento de Estradas e Rodagem); responsável pela construção, manutenção de vigilância das estradas; como operador de máquina. Fez carreira até sair como Policial Rodoviário Federal. Em 1959, aos 31 anos, Zacarias retorna à cidade sul-mato-grossense, visita o pé de cedro que havia plantado quando criança, conversa com Padre Chico e volta à capital paulista com a letra da música, sobre a árvore, já escrita. Foi quando pediu a Goiá, outro compositor, que musicasse a canção que viria a marcar sua carreira. No período em que trabalhou no Departamento de Rodagem, o compositor continuou mexendo com produções artísticas e cursou jornalismo pela Cásper Líbero.


Zacarias radialista, produtor, empresário, diretor de gravadora e compositor começa a surgir nesta época, no rádio, quando ele venceu um concurso de poesia na Rádio Bandeirantes e ganhou um programa para fazer. Ele recebeu diversos prêmios no Festival de Música Sertaneja da Rádio Record de São Paulo. Além de compositor, Zacarias Mourão foi radialista, tendo trabalhado na Bandeirantes, na Excelsior e também na Nacional. Na Bandeirantes, por sinal, também foi diretor artístico sertanejo e, com essa função, descobriu vários novos talentos na música caipira.


O artista foi diretor artístico e produtor de diversas gravadoras, tais como Polygram (hoje Universal), Chantecler (hoje Warner Music) e RCA (hoje BMG). Além de comandar o programa de rádio, ele era colaborador de revistas em São Paulo, como a "Melodias" e a “Moda e Viola”, na qual assinava a coluna “Venenos do Zacarias”, onde retratava, com humor, o mundo artístico da época. Suas composições foram gravadas por renomados intérpretes, como as Primas Miranda, Tião Carreiro e Pardinho, Irmãs Galvão, Tibagi e Miltinho, Zilo e Zalo, entre outros.

Zacarias retornou ao Mato Grosso do Sul no ano de 1981, e passou a residir em Campo Grande, onde trabalhou na Assembleia Legislativa, sem no entanto abandonar o meio artístico. Participou como jurado do programa “Nossa Terra Nossa Gente”, que ia ao ar pela TV Campo Grande, além do programa "Porteira Velha" que apresentava na Rádio Cultura.Brigava constantemente pela valorização dos artistas regionais. Chegou a ser proprietário da ZN Produções.



A vida de Zacarias Mourão foi interrompida na madrugada de uma terça-feira, em 23 de maio de 1989. O compositor, na época com 61 anos, foi encontrado morto dentro da casa que residia, localizada no Jardim TV Morena, em Campo Grande. Com a morte trágica de Zacarias Mourão, o sonho de fazer a praça pública no lugar do pé-de-cedro passou a ser um desafio ainda maior para os amigos e familiares. Foi erguido no local um busto em homenagem ao compositor, o que deu início à construção do espaço público com o qual ele sempre sonhou.

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