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  • Foto do escritorAlex Fraga

Opinião – Os erros e acertos do Festival de Inverno de Bonito 2019

Vamos direto ao assunto. É importante dizer que o Festival de Inverno de Bonito, por mais que alguns tentam ainda colocar como protagonistas, as manifestações do público contra o governo federal e as denúncias de truculência policial, penso que foi o melhor de todos realizados nestes 20 anos de evento. É óbvio que ocorreram erros amadores, principalmente no que se refere a Comunicação, já que não houve praticamente nenhuma cobertura nacional e raras foram as matérias regionais no decorrer dos quatros dias.


Divulgar apenas através de Facebook e Instagram não é jornalismo. A grandiosidade do evento merecia uma atenção maior. O fato de ter um site específico (com bons profissionais), não impede transtornos internos e desencontros de informações. De nada adianta organizar e planejar um evento da melhor maneira possível, se profissionais específicos que escrevem sobre Cultura na imprensa, não comparecem ou não são convidados. O ideal seria ter começado esse trabalho com antecedência regionalmente e nacionalmente para que o público começasse a amadurecer a ideia de ir ao festival. É necessário um período mais longo de divulgação e isso não ocorreu. Apesar do esforço da diretora presidente da Fundação de Cultura, Mara Caseiro de estar atenta em praticamente todas às apresentações artísticas, palestras, visitações em escolas, projetos e tendas, os registros jornalísticos com a presença e opinião dele, praticamente não ocorreram. Uma falha inadmissível! Mara Caseiro representa (aliás, surpreendentemente bem) o comando do órgão máximo da Cultura do Mato Grosso do Sul e não poderia ficar tão ausente jornalisticamente.


O Festival de Inverno se destacou por sua vez no seu “pré”, onde moradores do Distrito Águas do Miranda, assentamento Projeto Guaicurus, escolas e bairros de Bonito puderam participar de oficinas, exibição de filmes e espetáculos teatrais antes mesmo da programação oficial. Um verdadeiro “tiro na mosca” elaborado pelos técnicos culturais do órgão, pois Cultura tem que estar alinhada com Educação e consequentemente nas comunidades. Apesar de logo no primeiro dia oficial pela manhã ter oficinas, exibição de filmes, contação de histórias e teatro, um ponto triste e que poderia ser exaltada a Cultura, foi no Cortejo de Abertura, realizado pelo Teatro Imaginário Maracangalha. Lamentável a manifestação política. Digo isso porque acredito que não se deve confundir “manifestação cultural” com envolvimento político partidário. Cartazes e gritos contra o governo federal foram os despojos soltos por alguns desses artistas, que alias, sempre estão nos eventos pagos pelo próprio governo estadual. Até entendo a revolta sobre a atual situação politica no país, no entanto não era o momento e nem local para isso.


Com essa verdadeira ingenuidade “intelectual”, dá até chance para alguns políticos com visão retrógrada, querer acabar com o festival. Esse instante era para celebrar a Cultura, que com verba reduzida devido gastos exorbitantes da direção passada (cerca de R$ 12 milhões), estava vivo! Outro ponto negativo foi na Cerimônia Oficial de Abertura. Os homenageados deveriam ter mais destaques e quase passaram despercebidos. Poderia ter uma apresentação musical com mais tempo, teatro, poesia, um vídeo contando toda a história desses 20 anos ou algo assim. Lamentável as vaias de algumas pessoas que por consciência participaram do “cortejo” quando da palavra da diretora presidente da Fundação de Cultura. Sempre aprendi que quando alguém fala, o mais importante é ouvir e depois tirar as conclusões. No caso, faltou educação. A liberdade de expressão vem quando você também respeita o outro lado.


No que se refere ao trabalho do receptivo e orientação: foram perfeitos, pois foi muito fácil saber das programações. Em toda rede e bares se encontravam folders com informações dos horários dos espetáculos, palestras, cursos, oficinas e shows. Nas esquinas, placas indicando os locais foram fundamentais para que as pessoas pudessem se deslocar com tranquilidade aos locais. A cidade respirou arte. Ações de formação educacional, literatura, várias palestras. A mudança do palco principal: “Palco das Águas” foi excelente, retornando onde ocorreram os primeiros festivais. No entanto, no local praticamente não havia lixeira (um grave erro que deve ser revisto pelos organizadores). O retorno do corredor (passarela) cultural foi acertado. A Praça da Liberdade (Das Piraputangas) o público conseguiu ter mais acesso nas diversas tendas e pavilhões – espaço maior para os expositores. Poderiam pensar em exibir os filmes em um grande telão na própria praça e não no salão da Câmara Municipal. Um número mais de pessoas iria assistir com certeza. A música na rua também com apresentações como se diz na gíria popular: “matou a pau”. O Centro Múltiplo Uso (CMU) mais uma vez abrigou diversas atividades para a comunidade em três períodos. O Balneário Municipal pela primeira vez contou com atividades musicais (excelente ideia) e o surgimento da Caixa Cênica para apresentações teatrais que exigiam um determinado número de pessoas, mas com um trabalho cênico e de iluminação ideais, foi fantástico.


A programação geral foi de muito bom gosto. No entanto, achei exagerada. É necessário qualidade e não quantidade. Reduzir o número é fundamental para que as pessoas possam participar de todas as atividades. Marcar apresentações em vários locais e no mesmo horário, é um erro. Foram vários os espetáculos excelentes como os casos da Cia Lumiato de Brasília, Bolero de 4 (Belo Horizonte), Circo Zanni de São Paulo, o maravilhoso Grupo Galpão de Belo Horizonte, Quasar Cia de Dança de Goiâna, Cia Triks de São Paulo, o maravilhoso Antônio Nóbrega com sua viagem pelas danças populares do nordeste, e o lindo grupo Ares da capital paulistana, trabalhos que normalmente são raros em aparecer por Mato Grosso do Sul. Além, é claro dos artistas regionais que puderam apresentar lindos espetáculos. Musicalmente a escolha regional me surpreendeu justamente os três representantes do interior: Canta Bonito (artistas da cidade), Fernanda Eblig (Dourados) e Murilo Martinez (Três Lagoas). Excelentes apresentações. Por sua vez foi muito gratificante ouvir o talentoso Guilherme Rondon e o lirismo jazzístico musical da Urbem. Um show ímpar e com muito profissionalismo. Melhor até que todas as atrações nacionais. O povo cantou as musicas dos artistas do Estado.


Shows nacionais de alto nível: Gal Costa, Lenine, BaianaSystem e a dupla Chrystian e Ralf. A qualidade do som muito boa, sem problemas maiores. O que pode ser revisto é a ordem de apresentação e reduzir o número dos considerados grandes shows. Dois bastam e o resto dessa verba investir na produção local. Já fizeram que uma pesquisa com os moradores sobre quem eles gostariam da música sertaneja ouvir e assistir no palco principal, poderiam deixar para o último dia e não no primeiro. Fechando o evento em um domingo, com show às 19 horas, o morador das cidades próximas a Bonito poderia se deslocar e assistir o espetáculo. Sobre os gritos pró ou contra o governo? Acredito que o público tem direito de se manifestar, mas local não era apropriado, pois era um show musical – som para ouvir e dançar. Penso que o artista deve fazer seu trabalho musical (é pago para essa finalidade) e não incitar o público. Deve saber que há pessoas de todos os posicionamentos políticos e além do mais, não era um show político e sim cultural. Seja A ou B, tem que ter respeito. Sobre a segurança policial? Não era necessário todo aquele aparato com cavalaria e armas de grosso calibre. Lembrou-me alguns relatos dos anos de ditadura. Houve denúncia de abusos e truculência. Mas é necessário saber certinho o porquê da reação. Sabemos que não existem “santos” de ambos os lados. A terceira Lei de Newton já diz: ”Para toda ação (força) sobre um objeto, em resposta à interação com outro objeto, existirá uma reação (força) de mesmo valor e direção, mas com sentido oposto”. Se a polícia agiu errada, tem que descobrir quem o fez. Se o cidadão ou cidadã agiu errado (a), a mesma coisa.


Enfim, vamos celebrar a Cultura sempre e deixar a política partidária de lado que só atrapalha o desenvolvimento de projetos culturais. Vamos deixar de lado os ciúmes internos e externos. Há pessoas que torcem para dar errado, no entanto quando tiveram a oportunidade de fazer algo, simplesmente aproveitaram para si e os amigos, as possíveis facilidades financeiras. O Festival de Inverno de Bonito mostrou que seguirá firme para a alegria daqueles que gostam verdadeiramente de Cultura. É só continuar com os acertos e ter a humildade de aceitar e rever as falhas!!!


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