Corumbá - Memória e legado do artista Jorapimo em resgate!
- Alex Fraga

- há 1 dia
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***Por Silvio de Andrade*** - - -
Artista da vida pantaneira com um olhar crítico do cotidiano, retratando com sua pintura impressionista de colorido vibrante e golpes de espátula a rotina do peão, as belíssimas paisagens do bioma, a luminosidade do Rio Paraguai, o Casario do Porto, os pescadores, os peixes, as lavadeiras e o canoeiro, o corumbaense Jorapimo (José Ramão Pinto de Moraes) morreu em 2009 sem alcançar o reconhecimento de sua obra magnífica.
Faleceu no dia 22 de novembro, a dois dias de completar 72 anos de idade, desempregado do cargo que ocupava na Fundação de Cultura de sua cidade, onde, por décadas, manteve um forte vínculo com o movimento das artes, sempre cobrando mais apoio aos artistas, com as questões sociais, presente em suas telas, e o abandono do patrimônio histórico do porto geral. Sentia-se amargurado com o descaso à cultura e de vida simples foi um sobrevivente do desprezo.

Passados 16 anos de sua morte, um sentimento de resgate do legado que deixou aflora na sua cidade natal envolvendo um pequeno grupo de pessoas, manifestação vista como um despertar para o merecido reconhecimento com iniciativas que levarão sua obra às escolas. Jorapimo foi tema de um descontraído e emocionante bate-papo entre familiares, amigos e apreciadores de sua arte, na quarta-feira, e ganhou uma exposição, que segue aberta até 7 de dezembro.
Público prestigia - O encontro foi realizado na Casa A, um novo espaço de boa comida e de cultura ocupando um casarão dos anos de 1880 restaurado na Manoel Cavassa, 127, no porto. A ideia nasceu da empresária Mônica Magalhães Kassar, logo ganhou a adesão da única filha do artista, Simone, e um dos seus mais próximos amigos, o doutor em educação Gilberto Luiz Alves, que foi professor no Campus da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) em Corumbá.

“Nossa casa é um ambiente que resgata a memória da cidade e valoriza o artista local, nem sempre reconhecido. A obra do Jorapimo precisa ser difundida e conhecida, principalmente pelos jovens. Então, planejamos esse evento e foi um sucesso graças ao trabalho de equipe, com engajamento de todos”, disse Mônica, entusiasmada com a presença do público. “Já realizamos outras exposições aqui e essa do Jorapino será a terceira.”
Depois dos estudos em Campinas, onde morou em uma pensão de uma tia do pintor Cândido Portinari – fato revelado em sua autobiografia rabiscada em cadernos encontrados pela filha - a trajetória do autodidata corumbaense iniciou-se nos anos de 1950, sendo um dos introdutores da pintura moderna no então Mato Grosso. Também produziu esculturas, estampas em bolsas, desenhos em cartões e até caixinhas de fósforo estilizadas, ilustrações para jornais, histórias em quadrinhos e dedicou parte da vida ao ensino de arte.
Rompe um ciclo - Participou de mostras na Bolívia, Argentina, Japão e Alemanha e em vários estados. Possui obras no acervo do Museu de Arte Contemporânea (MARCO). Na primeira exposição de artes de Mato Grosso, organizada por Aline Figueiredo, foi um dos artistas premiados. O ofício de artista plástico era exercido atrás das grades de uma cadeia pública desativada nos anos 70, que passou a se chamar Casa do Artesão. As celas, preservadas, foram tomadas por ateliês e lojas de artesanatos. Ele ocupava a cela número um.
Para Gilberto Luiz Alves, Jorapimo rompeu com um ciclo artístico sob a temática de paisagens europeias e natureza morta predominante em Corumbá, exercido pelos espanhóis Antonio Burgos e Miguel Perez, ao retratar conflitos sociais e os mesmos personagens humildes encarnados nas obras do escritor Lobivar Matos, outro corumbaense de reconhecida grandeza no campo literário, na década de 1930, e modernista desconhecido após morte precoce.

A mesa-redonda em um dos salões da Casa A abriu a programação especial em homenagem ao artista, que faria aniversário no próximo dia 24. Parentes, ativistas culturais, artistas e colecionadores participaram da conversa, que reuniu lembranças de infância contadas pela filha, entre emoções e aplausos, e depoimentos sobre a sua obra e seu amor a Corumbá e ao Pantanal.
“Ele passava a vida para a tela”, resume Simone, 57, produtora têxtil em Campo Grande.
O acervo que compõe a exposição, com 24 obras, reforça a presença e as pinceladas de Jorapimo na memória e em diversas residências corumbaenses que cederam as telas. O público também poderá acompanhar uma mostra de vídeos com entrevistas concedidas por ele ao longo de sua carreira. Durante a exposição (aberta de quarta-feira a sábado, das 16h às 21h, e domingos, das 9h às 13h), estarão disponíveis para compra cartões originais e sacolas de algodão estampadas com suas obras.
***É jornalista





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