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Conto - Seu Neca: o desenterrador de ouro, por João Francisco Santos da Silva

  • Foto do escritor: Alex Fraga
    Alex Fraga
  • há 15 horas
  • 2 min de leitura
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Sábado no Blog do Alex Fraga é dia de conto com o médico clínico geral, acupunturista e escritor de Campo Grande (MS), João Francisco Santos da Silva, com "Seu Neca: o desenterrador de ouro.


Seu Neca: o desenterrador de ouro


Sou adulto no século vinte e, segundo a legislação, já quase idoso. O século passado às vezes parece que foi ontem, outras nem tanto. Lembro-me como algo bem distante uma história que ouvia minha mãe contar. História de outros tempos. Se ela mesmo aconteceu, deve ter sido no século vinte distante, lá da metade para trás. Verdadeira ou um pouco inventada, isso não tem tanta importância. Importante aqui é a história que escutei pela boca de minha mãe. O caso de Seu Neca, homem preto e desenterrador de ouro.

Segundo minha mãe, Seu Neca vivia num casebre com chão de terra batida. Sala e cozinha juntas, separadas do quartinho por uma cortina improvisada com embalagens plásticas de sacos de leite, cortadas em tiras e trançadas. Na cozinha, dois banquinhos faziam companhia para o fogão a lenha e algumas panelas de alumínio, muito bem areadas, penduradas em pregos, enfeitavam a parede de madeira próximo a pia.

Diz que Seu Neca, além de bom rezador, tinha faro para encontrar os enterros. Com suas rezas ele conseguia atrair a alma penada de algum senhor de engenho, militar da Guerra do Paraguai, ou ainda, de um padre ambicioso e a convencia a lhe guiar até a fortuna enterrada. Fazia as orações apropriadas, desenterrava o tesouro e libertava o infeliz do fantasma que, despojado de sua ganância, agora poderia alçar planos espirituais mais elevados.

Em sua casa havia algumas poucas patacas, quase sem valor, iguais às que são vendidas em bancas de antiguidades de feiras livres para numismáticos amadores. Fico imaginando onde ele guardava o tanto de ouro desenterrado ao longo de sua vida? Não sou ingênuo! É claro que ele seguia o mesmo costume dos antepassados. Tenho quase certeza que Seu Neca também enterrou o próprio tesouro em algum lugar secreto e bem escondido. Talvez ali mesmo no terreiro da casa?

Ele morreu há tanto tempo e, mesmo sem nunca ter o conhecido, sempre penso em Seu Neca, principalmente nas longas e entediantes segundas-feiras de trabalho. Se ao menos soubesse onde ele morava, eu

poderia comprar o terreno. Com um detector de metais e uma boa pá, quem sabe desenterraria aquele ouro? E então todos os dias de minha semana se tornariam sábados. E eu aqui, quase idoso, mas ainda tão jovem para me aposentar. Será que minha mãe consegue se lembrar onde era a casa de Seu Neca? Não custa sonhar.

 
 
 

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