Conto - Maldade Pura, por Helena Pereira
- Alex Fraga
- 24 de ago. de 2024
- 1 min de leitura

Sábado no Blog do Alex Fraga é dia de conto com a poeta e escritora de Amambai (MS), Helena Pereira, com "Maldade Pura".
MALDADE PURA
A plateia sorridente esperava há horas pelo espetáculo grotesco. Tinha no rosto um sorriso encardido de gente que se delicia quando faz o mal a alguém.
O artista em questão, como sempre, atrasado. E todos ali, atônitos esperando sua maestral chegada. Cavalo branco, imponente. Clarins tocando ao abrirem os portões e tudo mais que tinha direito.
Entrou rapidamente na sala, sentou-se na cadeira, acomodou-se desconfortavelmente. Estufou o peito e vomitou o que de mais podre existia em seu ser.
As palavras iam saindo da boca dele. Negras, pegajosas. Vindo do mais profundo abismo da ganância.
Invadiam a sala, manchavam as paredes, redemoinhavam no teto e na mente, escorriam pela alma desnuda, estática, descrente.
Rasgavam a pele como espinhos, cortavam em pedaços qualquer fio de esperança. Entravam pelos ouvidos e iam amarrando as entranhas com nós de tristeza.
Da boca dele saía arrogância, mentiras, maldades. Flechas atiradas contra alguém que jamais quisera fazer mal. Que jamais teria coragem de tentar machucá-lo.
Disse tudo sem pestanejar.
A plateia sorridente esperava o apedrejamento no final do espetáculo. Esperava que a vítima reagisse de alguma forma. Mas ela ficou lá... Olhos baixos, com a tristeza transbordando e escorrendo pela face.
E uma pergunta. Por que?
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