Conto - Contos Liliputianos 2, por João Francisco Santos da Silva
- Alex Fraga

- há 9 horas
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Sábado no Blog do Alex Fraga é dia de conto com o médico clínico geral, acupunturista e escritor de Campo Grande (MS), João Francisco Santos da Silva, com Contos Liliputianos 2.
Contos Liliputianos 2
Barriga d’água
A mulher tinha cinco filhos, um marido pobre e uma barriga d’água. Moravam nos fundos, de aluguel nunca pago, num casebre de madeira preta, pintada de piche para espantar os cupins.
Saiu do sitio com muitas esperanças, cinco filhos, o marido pobre e a barriga d’água. Veio se tratar na cidade.
O caixão simples, doado por vizinhos, foi ajustado para caber ela com sua barriga d’água. Os filhos e o pai, agora mais pobres, voltaram para o sitio.
Os cupins não conheceram a família.
Bromélio
— Você que é o irmão da Bromélia?
O homem já tinha ouvido tantas gozações por conta de seu nome inspirado na flora que isso não lhe aborrecia mais. Então decidiu estender a conversa.
— Sim, sou eu mesmo. De onde o senhor conhece minha irmã?
— Bem. Faz muito tempo que não a vejo. E como ela está?
— Morta!
— Puxa, desculpe. Sinto muito. Não sabia. E quando foi isso?
— Eu nasci em 10 de outubro de 1988. Acho que Bromélia, minha querida irmãzinha, morreu em maio ou junho de 1988.
— Você nem a conheceu?
— Não. E o senhor que a conheceu, por favor, me fale um pouco sobre ela.
— Já faz tantos anos, e a vi tão poucas vezes que não tenho uma lembrança muito precisa de sua irmã. Coitadinha! 1988! Morreu tão jovem. E como foi que morreu?
— Minha mãe estava gestante e no dia em que realizou a ultrassonografia para saber o sexo da criança, Bromélia morreu. Graças a meu pai, homem prático, rápido e decidido, eu nasci Bromélio.
Janelinha
O pai fala para o filho de 6 anos:
— Olhe para a frente e você se verá por trás.
— Como assim? — Perguntou o menino.
O pai apontou para um espelho, desses que dá para ver o corpo inteiro.
— Olhe isso! – Disse o pai chegando bem perto do espelho e quase encostando o rosto nele. Então ele abriu bem a boca e falou alto:
— Aaaaaahhhh! Você viu? — Perguntou o pai rindo.
— O que?
— Minha campainha! Essa coisa que balança de um lado para o outro quando eu falo.
— Ah! Ela eu vi. Mas não vale. Isso não é ver por trás, isso é ver por dentro.
— Quer apostar como você consegue se ver por trás?
O pai não esperou o menino responder.
— Chegue bem perto do espelho. Agora você vai dar um sorrisão igual o meu — o pai fez um riso forçado com a boca bem aberta e os dentes cerrados, os superiores encostando nos inferiores.
O menino repetiu o sorriso do pai e não é que, olhando para o espelho à sua frente, ele conseguiu mesmo se ver por trás. Enxergou a pontinha da língua que aparecia meio escondida por trás dos dentes, só visível pela janelinha de criança banguela.





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