Texto Poético - Velhos Amigos, por Inorbel Maranhão Viégas
- Alex Fraga

- há 7 horas
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Sábado no Blog do Alex Fraga é dia de texto poético com o jornalista, poeta e escritor de Brasília, Inorbel Maranhão Viégas, com "Velhos Amigos"
Velhos amigos
A porta do elevador se abre. Décimo primeiro andar.
É onde eu habito. Meu plano é chegar à garagem, no subsolo.
Há uma pessoa lá dentro que não faz menção de sair. Espero. Me olha, sorri. Eu cumprimento. Entro.
Ele, então me diz: Eu esqueci de apertar o zero. Quando vi, estava subindo. E ri, novamente. Riso leve. De quem não vai se incomodar com coisa boba.
Eu devolvo o riso. E digo que isso acontece sempre que a gente disputa com o tempo. Não havendo calma, o tempo ganha sempre.
O homem mantém o rosto alegre. É quarta-feira. Ele veste uma camiseta marrom com algo escrito na estampa que não tem a menor importância.
Está de bermuda e tênis e carrega um celular em uma das mãos. O elevador desce na velocidade que comporta um breve diálogo.
Ele me diz: A minha pressa é justa, mas tenho tempo. Eu olho com olhar de quem tem vontade de saber o motivo, mas meus lábios não se movem. Talvez meu silêncio e a força do meu olhar lhe façam sentir à vontade para dizer o motivo que o faz sair de casa.
Quarta-feira. Os ponteiros do meu relógio se aproximam da uma e meia da tarde.
Ele sorri e revela: Vai ao “seu Juca”, um bar tradicional de Brasília que se espalhou pelas regiões administrativa e faz sucesso também em Águas Claras.
Quarta-feira, uma e meia da tarde. Eu tenho pela frente o trânsito da EPTG e dezoito quilômetros me separam de uma reunião de trabalho.
O rosto dele se ilumina: “Vou pedir um chop e ver o Flamengo jogar”.
Eu ainda decifrava a mágica simples que unia a intensidade daquele compromisso e compasso da alegria manifesta, quando ele investiu com força em me descobrir, na intimidade sem barreiras do elevador.
Você já morou em Ceilândia? Me pergunta. Sorrio e respondo que não. Já trabalhou na chevrolet? Contenho o riso e devolvo: Não, não trabalhei lá.
Ele cita o nome da empresa de onde pensou me conhecer. O elevador para no sexto andar. A porta se abre. Uma senhora entra, a tempo de escutar a parte final da pergunta dele e o nome da empresa que ele menciona.
Ela não titubeia. Vira pra ele e dispara: aquela Chevrolet que ficava ali no final da Asa Norte? Eu trabalhei lá por 25 anos. Inclusive ganhei um concurso de “a mais bela funcionária da firma”. Faz tempo isso, eu era muito mais bonita do que sou hoje. Agora estou acabada, é o tempo.
No rosto dele o sorriso se amplia. 25 anos na empresa? Então você conheceu meu tio!
O elevador segue a descida. Eu perco o privilégio da atenção dele. Ela e ele se emocionam a cada novo reconhecimento.
O térreo. Eles se despedem de mim. Eu desejo uma boa tarde aos dois. Antes da porta do elevador se fechar tive a impressão de que ele a convidou pra ver o jogo do Flamengo.
Quarta-feira, quase duas da tarde. 18 quilômetros de distância pela EPTG não se comparam, nem de longe, à intimidade sem cerimônias de um elevador.
No fim do dia, vejo que o Flamengo venceu a partida. Meu “amigo de infância” reencontrado na descida do elevador deve estar mais feliz ainda.
Inorbel Maranhão Viégas
Brasília 11/12/25





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