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Texto/Poesia - O Linguista e o Imperador

  • Foto do escritor: Alex Fraga
    Alex Fraga
  • 3 de out. de 2024
  • 3 min de leitura

Quinta-feira no Blog do Alex Fraga é dia texto/poesia com a escritora e poeta de Campo Grande (MS), Raquel Naveira, com "O Linguista e o Imperador".


O LINGUISTA E O IMPERADOR

Raquel Naveira


O que é a linguagem? Essa é uma frase tão profunda quanto “O que é a vida?”. Não se pode possuir ou usar a linguagem natural sem possuir ou usar alguma língua específica, um idioma. A língua é um fenômeno social, uma instituição e, sobretudo, um grande mistério. Um mistério humano e divino.

O francês Jean-François Champollion (1790-1832) foi um extraordinário linguista, filólogo, responsável pela decifração dos hieróglifos egípcios. Escreveu inúmeros trabalhos sobre a cultura e a língua do Egito Antigo. Foi parcialmente criado por seu irmão, o estudioso Jacques e sempre demonstrou ser uma criança prodígio. Falava várias línguas como copta, grego, latim, hebraico e árabe.

A campanha de Napoleão (1769-1821) no Egito aconteceu durante a Revolução Francesa. Os franceses pretendiam ocupar o Egito para utilizarem esse território como plataforma para avançar para a Índia, de onde atacariam o domínio britânico. Vários nomes do meio acadêmico científico participaram dessa campanha. A Pedra de Roseta, um exemplar de estela para marcar a coroação do faraó Ptolomeu como “deus vivo”, foi encontrada pelo Capitão Bouchard e tornou-se a chave para a decifração dos hieróglifos. Ela continha um decreto escrito nos três sistemas: grego, copta e com hieróglifos. Champollion conseguiu comparar e alcançar a solução do enigma. Questionava-se: os sinais eram fonéticos (sons da fala) ou ideográficos (gravando conceitos com significados semânticos)? A pedra estaria ligada a ideias esotéricas? Registraria fatos históricos? Todas as suposições estavam erradas. Era, na verdade, uma rica combinação de sinais fonéticos e ideográficos.

Na célebre Batalha das Pirâmides, em junho de 1798, Napoleão pronunciou a máxima de encorajamento: “_ Soldados de França! Do alto dessas pirâmides, quarenta séculos vos contemplam.” Incitou assim seus comandados a enfrentarem as tropas de mamelucos e muçulmanos. A campanha, em termos militares foi um desastre, desperdício de vidas e de dinheiro, mas, culturalmente foi um sucesso e alavancou a reputação de Napoleão e sua ascensão política.

Indico o romance histórico “O Linguista e o Imperador: Champollion, Napoleão e o Mistério da Pedra de Roseta”, de Daniel Myerson, professor de criação literária nas universidades de Columbia e Nova York. Myerson narra a verdadeira história de como as vidas desses dois gênios obcecados pelo Egito convergiram para uma conquista que revolucionou nosso entendimento do passado. A espantosa história da Pedra de Roseta que está no Museu Britânico, depois de uma disputa amaldiçoada, as maquinações para protegê-la, a corrida para desvendar seus segredos e o tormento que parecia atacar os que tocavam nela são descritos de forma fascinante. Lembrando que Champollion viajou para o Egito novamente em 1829, onde leu vários textos e trouxe novos desenhos de inscrições. Sua saúde ficou arruinada pelas dificuldades dessa jornada pelos desertos egípcios, vindo a falecer jovem, aos quarenta e um anos, no auge de sua capacidade.

E sobre a Pedra de Roseta, escrevi:


Acaricio o basalto negro

Da pedra de Roseta:

Sou poeta,

Minha meta é decifrar a escrita,

A linguagem perdida,

Os símbolos,

Os pictóricos sinais.


As imagens formam palavras:

Leões,

Perdizes

Mais uma boca

Significam

Cleópatra.


Jarros,

Pães,

Rostos,

Escaravelhos,

Mistérios trançados

Em novelos de linho.


Há beleza

Nas caudas de crocodilo,

Nos vasos de cerveja,

Nos corações ligados à traqueia,

Em cada ideia.


Acaricio o basalto negro

De um claro enigma.

 
 
 

1 Comment

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Guest
Oct 07, 2024

Mais um texto fascinante da talentosíssima Raquel Naveira.

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