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Texto - Os Botes do Privilégio, por Edson Moraes

  • Foto do escritor: Alex Fraga
    Alex Fraga
  • há 22 horas
  • 2 min de leitura

Sexta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de texto poético com o jornalista, escritor e poeta de Campo Grande, Edson Moraes, com "Os Botes do Privilégio"


OS BOTES DO PRIVILÉGIO

(Edson Moraes )


Onças não atacam pessoas.

As onças estão contra-atacando.

Enquanto existirem. Enquanto puderem.

Enquanto não forem extintas.

Invadimos a casa delas.

Porque as nossas estão blindadas.

As nossas, antes de as habitarmos e de abrigar nelas os móveis da sala, o berço do bebê, a foto de formatura da irmã e o cofre do vil metal e dos sonhos dourados, primeiro construímos os muros e as cercas, instalamos campainha e alarme e botamos trancas nas portas e janelas.

Claro, também estendemos um tapete na entrada com a simpática e convidativa inscrição: "Sejam bemvindos"!

E ainda nos precavemos com fuzis, canhões e granadas para não permitir que qualquer um entre sem a nossa permissão.

Azar das onças se na mata não há muros, nem portas trancadas e alarmes.

Com ou sem tapete de boas-vindas, queremos o prazer que a mata nos dá, na "diversão" de uma pescaria ou uma caçada, na expansão dominial de patrimônio.

As onças agora nos atrapalham. Mas também ambos sabemos como dar os nossos botes.

A diferença é que elas só dão o bote quando estão em sua casa, para defender as suas crias e o seu território.

O racional e o irracional se desamparam nas matas.

Onças são animais que vivem e se movem impulsionados pelo instinto. São desprovidos de cérebro e deste imprevisível privilégio chamado racionalidade, que assiste à condição humana.

Morte às onças, pois não?

Vamos nos defender, vamos atacar, temos a expertise, somos excelências curriculares no assassinato de matas, rios, passarinhos, peixes e até de sonhos que não enchem nossos bolsos, que não multiplicam nosso patrimônio e não preenchem nossas ambições hereditárias.

Ensinemos, pois, como ser felizes matando e desmatando, destruindo e desertificando rios e florestas para ver que inexiste necessidade de razão, nem fome de sensatez.

Somos restos de dias em que até nossos gemidos nos dão a certeza de que a inteligência nos inutiliza.

GRRRRRRRRR!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

 
 
 

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