Texto - E Adão salvou a memória, por Inorbel Maranhão Viégas
- Alex Fraga
- 21 de dez. de 2024
- 1 min de leitura

E Adão salvou a memória
A história do cinema em Campo Grande passa, inevitável, pelo Cine Alhambra.
Ficava ali, na Avenida Afonso Pena, quase no cruzamento com a Rua 14 de julho.
Ele surge em 1937. E dura cinquenta anos, até que fosse demolido para ceder espaço à construção de um hotel.
No dia em que as paredes do cinema, junto com tudo que havia de memória, vieram abaixo, parte da história, dos amores, da memória da cidade foi destruída também.
Adão Matias, projecionista que trabalhou lá por muito anos, sofreu uma dor intraduzível.
Parado ali, enquanto a história virava escombro, foi tomado por uma força que até hoje ele não sabe de onde veio. Só lembra que não conseguiu ficar quieto diante da perda inevitável.
As latas de filmes jogadas no lixo foram salvas na medida do que os braços dele comportavam.
Salvou pouco. Salvou muito. Salvou.
Ontem, quase 40 anos depois desse episódio, Adão me disse que valeu a pena. Do lixo brotou a raiz. A memória prevaleceu.
O cinema, afinal. É luz em movimento. É alma. É essência. Adão não faz ideia, mas o gesto de tirar os filmes do lixo foram heroicos.
Como uma mão divina que impede o caos. Como um sopro que faz renascer a vida. Não à toa, ele se chama Adão.
Inorbel Maranhão Viégas
Brasília, 15/12/24
留言