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  • Foto do escritorAlex Fraga

Texto - Correspondência, por Inorbel Maranhão Viegas



Sábado no Blog do Alex Fraga é dia de texto com o jornalista, poeta e escritor de Brasília DF, Inorbel Maranhão Viegas, com "Correspondência".


Short Cuts de terça

Correspondência


Venho de uma família que escreve. Meu avô, Opílio, escrevia histórias de marinheiro na Baía de São Marcos, entre Alcântara e São Luís. Antes dele, nosso mais longínquo ancestral, Gago Coutinho Viegas, imagino, também escreveu sua jornada transoceânica, de Portugal até o novo mundo.


Minha avó, Antonieta, “escrevia” histórias pela oralidade. Foi dela que escutei as primeiras histórias de encantados saindo das florestas ou vagando pelas ruas da Madre D’eus. Venho de uma família que escreve.

Minha mãe, Isabel, descreve coisas de sua infância, em Bequimão, como se as estivesse vivendo hoje. Tão rica memória.


Meu pai, Inocêncio, escreve. Compulsivamente, escreve.

Não faz muito, sua lista de amigos pra quem envia cartas – sim, ele ainda as faz e remete cuidadosamente pelos correios – continha quatrocentos nomes.

Depois da pandemia essa rotina de envio diminuiu um pouco. Mas, pra não perder o hábito, ele segue envelopando seus escritos, endereçando aos que pode e despachando da forma possível.


Faz isso, sistematicamente, comigo e com Preta. Sábado passado, quando estivemos em sua casa foi assim.


Terminado o almoço, louça lavada, sobremesa e café sorvidos, nos despedimos pra ir embora. Entro no carro e vejo um envelope, pelo lado de fora, entre o vidro e o limpador de para-brisas. Preta o pegou. E lá dentro, duas das crônicas que ele mais gostou de escrever nos últimos tempos.


Ele poderia ter entregue aquele envelope em nossas mãos. Mas não o fez. Acho que ele gosta do ritual de enviar a correspondência.

Escrever, imprimir, por um recado escrito à mão, com letra cursiva impecável, envelopar e sair para o “correio”. No caso, o correio era o vidro do nosso carro.


Na mensagem se lê dois recados: “Momentos que se foram e teimam em ficar em nossos corações. PS.: Por favor, leiam primeiro “O ganso”. Ass. Dom Viegas, o pai.

Venho de uma família que escreve. E não tenho a menor dúvida, é daí que vem a minha paixão pela escrita.


Inorbel Maranhão Viegas

Brasília 17/04/24

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