
Sábado no Blog do Alex Fraga é dia de texto com o médico clínico geral, acupunturista e escritor de Campo Grande (MS), João Francisco Santos da Silva, com "Coisas da vida: direito a uma morte digna"
Coisas da vida: direito a uma morte digna
Urina presa, urina solta. Quem viver saberá. Demonstração inequívoca da fragilidade humana. Ao menos daquela parte da humanidade que nasceu com próstata. Esses contemplados, se viverem um pouco mais, sejam filósofos, cientistas, reis, operários ou outro tipo qualquer, todos, inexoravelmente, um dia molharam as calças.
Copo meio cheio. A pessoa chegou lá. Outros tantos ficaram pelo caminho.
Copo meio vazio. Sinal deprimente da decadência física.
Copo meio cheio. Se tudo pode piorar, melhor ficar mijado que cagado.
Copo virado. Depois de um tempo, a perspectiva se altera. Sem memória e dementado, não se sabe mais quanto importa estar seco ou molhado, limpo ou sujo. Será mesmo que não importa?
O texto está ficando muito pesado. Seria melhor parar por aqui. Porém, é necessário falar de sondas, cateteres, transfusões, diálise, UTI e outros aparatos. A tecnologia aplicada a medicina é crucial para salvar as vidas que podem ser salvas. Mas, para quem já está com o copo virado, pode se tornar instrumento de tortura. Importante guardar esta palavra: distanásia.
Na verdade, o importante é falar sobre cuidados paliativos. Próximo ao final, poder ficar seco e limpo. Sem passar frio, nem sede. Medicado para não ter dor. É o copo cheio. Melhor viver dois dias o mais confortável possível, do que ter a vida prolongada em uma UTI por dois meses, para só depois terminar (deixarem) de morrer. Morte dolorosa, lenta e solitária. Lembrar da distanásia.
Na terminalidade da vida sempre há algo que pode ser feito para o conforto de quem está partindo. Inclusive deixar a pessoa morrer no seu tempo natural e sem utilizar de meios que prolonguem o seu sofrimento. Aqui é importante guardar esta outra palavra: ortotanásia.
Hora de encerrar essa história que já se prolongou demais. De homens com suas próstatas, foi para a humanidade com as questões que surgem na fase de terminalidade da vida. Fica a dica para os que tem próstata, para os que não tem próstata, para os mais experientes e para os que ainda são jovens, e para todos que talvez não conheçam os seguintes conceitos:
Cuidados paliativos: Proteger. Esse é o significado de paliar, derivado do latim pallium, termo que nomeia o manto que os cavaleiros usavam para se proteger das tempestades pelos caminhos que percorriam. Proteger alguém é uma forma de cuidado, tendo como objetivo amenizar a dor e o sofrimento, sejam eles de origem física,
psicológica, social ou espiritual. Por esse motivo, quando ouvir que você ou alguém que você conhece é elegível a cuidados paliativos, não há o que temer.
Fonte: Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP). https://paliativo.org.br/o-que-sao-cuidados-paliativos/
Distanásia: significa a prática de atos pelos quais se prolonga, por meio meios artificiais e desproporcionais, a vida de um enfermo incurável.
Ortotanásia: refere-se ao termo utilizado pelos médicos para definir a morte natural, sem interferência da ciência, permitindo ao paciente morte digna, sem sofrimento, deixando a evolução e percurso natural da doença.
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Muito interessante e uma contribuição grande para as pessoas.
Solange de Moraes.
Ponta Porã MS
Muito bom. Parabéns!
Lucas Martins
Campo Grande MS