Quinta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de texto da poeta e escritora campo-grandense Raquel Naveira com seu texto intitulado "Geurra:Estado Permanente.
GUERRA: ESTADO PERMANENTE
Raquel Naveira*
A guerra tem por fim a destruição do mal, o restabelecimento da paz, da justiça, da harmonia, tanto nos planos cósmico e social, quanto espiritual. É manifestação defensiva da vida, jogo de sobrevivência sobre a Terra, combate contra poderes diabólicos, entre luz e trevas. A guerra constitui a imagem da calamidade universal. Um sentimento e uma realidade que acompanham o homem desde a Antiguidade.
A guerra é o fascinante e polêmico tema sobre o qual se debruça o arquiteto e Professor de Matemática, Cláudio Vilas Boas Soares, nesse ensaio denominado: “O Estado Permanente da Guerra: da Pré-História ao futuro da Guerra”. Viagem que reflete a cultura da guerra: sua gênese, seus cenários, seus registros, suas loucuras, seus heroísmos, suas disputas. O autor questiona como explicar aos nossos filhos e alunos esse fenômeno enraizado na trajetória da humanidade, pois cada cultura tem seu modelo de guerra e de batalha. Nesse processo relembra a Ilíada de Homero, que narra a Guerra de Troia e seus estratagemas como um primeiro relato de banho de sangue em que explodem, ao mesmo tempo, tendências obscuras e também virtudes elevadas dos seres humanos.
Extenso e árduo é o trabalho desse pesquisador: os planos de guerra que levam em conta que a oportunidade de derrotar o inimigo é oferecida pelo próprio inimigo; a linha dos períodos históricos desde os arqueiros da pré-história até as armas nucleares e os ataques terroristas de lobos solitários; a territorialidade como base da organização social.
Sobrevoamos no texto as pirâmides do Egito às margens do Nilo e à sombra dos faraós; a Índia desaguando no Mar das Arábias; a fantástica civilização asiática nos vales quentes ladeados pela Grande Muralha da China até a civilização judaica acuada pela destruição de Jerusalém no reinado de Nabucodonosor; a nação fenícia, hoje o Líbano, navegando e tecendo; a Grécia com sua arte e filosofia fazendo dos homens ora livres, ora escravos; o Império Romano ou Latino dominando todo o mundo conhecido da época (Júlio César, Cleópatra, Antônio, Otávio, personagens de uma história incrível que termina na batalha de Actium e nos suicídios de Antônio e Cleópatra). Jesus, o nazareno ungido e o apóstolo Paulo, o comunicador, o perseguidor convertido espalhando a mensagem do evangelho, são aqui personagens históricos que emocionam.
A Idade Média com a fuga de Maomé, fundador do Islã e transformador da história do Oriente Médio e do mundo. Os horrores das cruzadas e da Inquisição. A invasão dos vikings, o Reino Germânico, as fortalezas. Vamos caminhando pelos castelos, fogueiras e mesquitas.
Chegamos à Idade Moderna, às viagens marítimas; à caravela de Colombo na América; à Revolução Francesa; à morte de Luís XVI na guilhotina; aos desvarios de Napoleão Bonaparte derrotado na neve de Waterlooo; à Guerra de Secessão dos Estados Unidos, cuja origem foi a escravidão e a oposição entre norte e sul do país. Depois, no conturbado século XX, duas grandes guerras: a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais; a guerra ideológica com a assinatura de Karl Marx.
O capítulo “II Guerra Mundial, a ascensão e a queda do III Reich” é questão à parte, pois a história do nazismo e da personalidade psicopata e bestial de Hitler sempre causam asco e perplexidade.
A metade da década de 50 vê uma sequência de conflitos culminarem na Guerra Fria com duas superpotências se digladiando surdamente: os Estados Unidos e a Rússia. Che Guevara e a ilha de Cuba, a Guerra do Vietnã são desdobramentos desse confrontamento.
O autor se pergunta sobre o futuro da guerra e chega à conclusão que em todos os lugares onde há miséria e intolerância preparam-se os campos férteis da resistência armada. Explica com maestria o conflito entre israelenses e palestinos.
O século XXI vive um momento de crise espiritual e moral, crise profunda de valores, em meio ao terrorismo, que atingiu seu ápice no 11 de setembro de 2001 quando Osama Bin Laden destruiu o World Trade Center em Nova York. Enquanto isso, num clima de violências e injustiças sociais, o Brasil trava combate em ritmo de canhões desde a Guerra do Paraguai, desembocando em escândalos de corrupção.
“O Islamismo continuará se expandindo”, vaticina o autor. A situação mundial de hoje são os atentados, o perigo das armas biológicas, as matanças regadas a drogas, a mistificação do terror, a instabilidade política internacional, o crescente número de refugiados. A humanidade perdeu seu rumo numa multiplicação de episódios sinistros.
Essa é a visão de Cláudio Vilas Boas Soares: a objetividade e a lucidez sobre o palco de guerra que é este planeta. No coração, o homem trava uma luta consigo mesmo. E combaterá até o fim as forças destrutivas.
(Infelizmente esse livro não foi publicado. O Professor Cláudio Vilas Boas Soares faleceu no dia 06 de outubro de 2022, aos 67 anos. No seu texto não há menção à Guerra entre Ucrânia e Rússia, que pôs o mundo em alerta e mexeu no xadrez da política internacional. Esse guerreiro da educação desejava trazer reflexões sobre a complexa situação do homem sobre a Terra, em embates externos e internos, que levam a ciclos de destruição e restauração de impérios. Cláudio marcou a todos nós, familiares, amigos, ex-alunos, com sua mente estudiosa.
Ótima resenha!
Tomara o livro do Claudio seja publicado.
Saudades do amigo, com quem convivi em nossos verdes anos.