Reflexão - Diário de uma Idosa, por Joana Prado Medeiros
- Alex Fraga
- há 2 horas
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Quarta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com a historiadora, escritora, professora universitária e poeta de Dourados (MS), Joana Prado Medeiros, com seu Diário de uma Idosa - Da série amizade 03.
DA SÉRIE AMIZADE - 03...
Estava eu faceira, toda vestida de negro com colares vermelhos, sapatos vermelhos e bolsa de festa também vermelha. O baile já dançava a aurora. Quando chega em nossa mesa uma jovem espevitada, cheia de borogodó, magrela e linda. Para dar espaço na mesa retiro a minha bolsinha dizendo - Data Vênia! aí olho para a criatura e digo data vênia significa com licença! Ela diz com um sorriso do tamanho do salão - Eu sei! Eu me encanto com a criatura e digo - Quero ser sua amiga! Ela ri. Vejo em seus trejeitos o meu eu do passado, eu na juventude. Ali começa uma amizade, de almas gêmeas. Eu decifro seu olhar e adivinho o que ela vai comentar e vice versa. Somos geminianas faço aniversário dia 27 de Maio e ela dia 31. Quando as janelas da minha vida foram fechadas as portas que se abriram foram com as suas chaves. Quando ela assinou o divórcio eu fui testemunha. Quando os seus três filhos, lindos, foram "servir" ao quartel que era um Deus nos acuda para lavar as fardas o nosso mundo era verde oliva. Quando na madrugada batia doído as tristezas, nós sentavámos nas calçadas ao pé da rua. Ela sabe as datas das coisas pelas casas que foram alugadas e por suas diversas mudanças, sabe, quando eu tive febre de paixão pós o encontro com o meu Italianin II. Eu não sei, só sei que já se vão duas décadas e meia cumplicidade de amizade. Minha intenção ao escrever este diário era nomear algum "feito do feito" e deixar registrado algo de nosso. É difícil selecionar um. Cito uma vez em uma noite gelada de quase dois graus (caía geada) nós sentamos no chão da varanda da casa dela, aquecidas por uma fogueirinha, tivemos a pachorra de fazer uma fogueira de restos de bancos de madeira e carvão. Bebemos Cocadinha, (coquetel alcoólico sabor cocadinha Wilson 920 ml) tomamos dois litros de Cocadinha, isso porque o dinheiro era curto...Rindo, fumando e cantando - "Não, não chore mais, bem que eu me lembro da gente sentado ali, sob o céu ob observando estrelas junto à fogueirinha de papel - No, woman, no cry." E quando seu pulmão estourou, ( ela teve uma pneumotórax) eu pressenti, soube na hora, algo do além veio me contar, saí feito louca em sua captura, felizmente ela sobreviveu eu mais do que ninguém sabia que ela não poderia morrer triste como estava. E agora, minha pele flácida ri quando ela chega pra tomar um tereré...E decidimos não vamos mais brincar de pitar um cigarrin. E quando me casei (uma das vezes) ela não curtiu, mas não interferiu (risos) e quando o famado marido me disse - Ou ela ou eu ! Eu disse - Ela, ora essa! E por centenas de dezenas de vezes já deitada me levanto de madrugada só para recebê-la pra mode a gente olhar as estrelas a lua e prosear. Já fomos terríveis, terríveis e mui terríveis já dançamos na avenida em plena madrugada. Hoje ela é a avó mais avó que conheço, ela é linda, corajosa, riso grande e olhar ligeiro. Eu digo que ela fugiu da Rocinha e veio pra cá só pra me ensinar a dar laços de sete laços na vida, eu a chamo de "Silvina Jacques" (fazendo alusão ao Silvio Jacques que é a versão gaúcha-matogrossense de um famoso bandoleiro) Silvina Jacques, Sílvia, Silvia Adriana, outro dia voce me confessou que não sabia o significado de data vênia, caímos na risada. Silvia, Silvia Adriana você que me ensinou a amar
Os Cantores de Ébano, vamos cantar amiga, vamos continuar cantando - Ô uirapuru
tens no canto as mágoas do meu coração. E você sabe amiga o quanto eu sou seresteira cheia de dor e mais "morrível" que todo mundo. Eu Te amo Simiga ( Silvia amiga). Fica o beijo da Jomiga.
( Joana Prado Medeiros - 20/05/2025 - Direitos Autorais Lei 9.610/98)