Reflexão - Acalanto de uma madrugada, por Sylvio D Prospero

Segunda-feira no Blog do Alex Fraga é dia de texto de reflexão com o escritor e poeta de Curitiba (PR), Sylvio D Prospero, com "Acalanto de uma Madrugada".

ACALANTO DE UMA MADRUGADA

Balançando como um galho, branco pálido com um amarelo sonolento, e tornando o escuro da noite numa matiz de cores lusco-fusco, eu caminho como sempre sem um destino certo, apenas buscando na madrugada, encantos, sem precisar pegá-los.

Passo numa praça deserta, com seus bancos solitários, que só se sentem vivos quando alguém se assenta neles, vejo as árvores escondendo os pássaros, que se escondem das luzes e aguardam o dia nascer para alegrarem o espaço.

Desvio de um carro estacionado, com seus vidros embaçados, que escondem o amor maroto, que um faz no outro, guiados por uma música deleitosa que acompanha o embalo do amor no ato.

Eu continuo a caminhar, guiado agora pela luz néon de um bar aberto.

Adentro, saúdo o garçom, me sento numa cadeira surrada junto à uma mesa com toalha rôta quadriculada de branco e preto.

Peço duas doses caprichadas de um Whyski qualquer e uma garrafa de água mineral sem gelo, que são prontamente colocadas na minha frente, acompanhadas de dois copos "Nadir Figueiredo", um para o Whyski e outro para a água, completando o meu pedido.

Na mesa ao lado, uma mulher de meia idade, bem retocada de pintura barata, cabelos pretos quase em desalinhos, num vestido branco cintilante com decote avantajado, me saúda com um levantar de copo vazio, que retribuo sorrindo.

Nasce aí, não um olhar de desejo, não de amor, nem de paixão, mas de parceria, numa vida noturna, no acalanto de uma madrugada...

                             (Véio D'Prospero)