Segunda-feira, no Blog do Alex Fraga, dia de texto de reflexão do escritor e poeta de Curitiba (PR), Sylvio D Prospero, com "Tonhão Boca de Porco - Dia da Mulher".
TONHÃO BOCA DE PORCO - DIA DA MULHER (Véio D'Prospero)
Eu estava tomando uma liza, sentado no banquinho de quatro pés no Antro Etílico, boteco que costumo frequentar, quando Tonhão Boca de Porco, meu amigo de bar, entrou sério, com o chapéu surrado na mão, pediu uma liza, jogou goela abaixo, bateu o chapéu com força na perna e sentou-se ao meu lado, mudo.
- Que cara é esta Tonhão, algum problema? Perguntei.
Tonhão me olhou, sentí que tinha lágrimas nos olhos, colocou o chapéu surrado na mesa e soluçando falou:
- Seu Silvo, a vida du pobri num tem memo filicidadi, cheguei em casa onti, dí uma roza, que peguei na casa da dona Ruti, pra Dita, minha muié, abracei ela, bejei ela, fiz carinhu nela e dí parabem pro dia das muié.
- Bonito de sua parte Tonhão, as mulheres merecem nosso carinho. Falei.
Tonhão esfregou os olhos com as mãos calejadas e continuou com a vóz embargada pela vontade de chorar.
- Intão seu Silvo, tava tudo bunitu, daí ela me impurrô e foi dizeno:
- Tá, valeu, mais óia, o dono do barraco já me cobrô otra veiz, num tem leite pros piá, tá fartando arroiz, feijão i ocê vem mi cumprimentá, com uma frô robada qui eu sei, prum tár DIA DA MUIÉ???? Cai foraaaaaa!!!
-Seu Silvo, pruquê inventam estas datas bunitas, tudu mundo fala, acontece, tudu da bôca pra fóra seu Silvo, filicidade memo, nesta vida fia duma égua é u marditu dinhero!!!
Tentei acalentar o Tonhão, mas ele se levantou, não pediu mais uma liza, saiu cabisbaixo colocando o chapéu surrado e desceu a rua, do lado contrário ao de sua casa, e sem associar o Hino Nacional.
Fiquei olhando Tonhão, meu amigo de bar, descendo a rua, engoli o choro e pensei em voz alta:
É Tonhão, dinheiro senhor soberano, a Dita, como muitas mulheres não tem culpa de estarem precisando de outra forma de amor nos dias de hoje, sobrevivência!!
É Dita, então tá, então!!! (Véio D'Prospero)
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