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Reflexão - Recordando Tonhão Boca de Porco”, Sylvio D’ Prospero

Foto do escritor: Alex FragaAlex Fraga

Segunda-feira no Blog do Alex Fraga, texto de reflexão do poeta e escritor de Curitiba (PR), Sylvio D’Prospero, com “Recordando Tonhão Boca de Porco”.

Ontem à tarde eu estava sentado no banquinho, agora velho, do Antro Etílico, boteco que costumo frequentar, quando Tonhão Boca de Porco, meu amigo de bar entrou afoito, pediu uma “liza” e gritou pra mim:

-Seu Silvo, tava pricurando o sinhô, tô vendo na TVzinha qui us juiz tão locos, num sabenu jurgar, qui u prisidente num sabi guvervá, quí us hospitar num tão atendenu ninguém, quí num tem imprego, quí tá cheio di puliticus robano, quí tem patrão robano, qui tem impregadus robano i quí num tem dinhero pra mai nada i qui o Brazir vai pará, é verdade isto, seu Silvo???

Olhei para o Tonhão, e fiquei observando aquele homem sofrido, analfabeto, trabalhador, sem muitos sonhos, tentando apenas viver o tempo que lhe resta de vida e me perguntei; porquê estaria preocupado com a realidade do Brasil, que passa na TV?

-Tonhão, você não precisa se preocupar com o que diz a TVzinha, muitas vezes são apenas novelas, programas humorísticos e noticiários que, quase nunca dizem respeito à gente, pois não vai modificar em nada nossas vidas.

Tentei deixa-lo mais tranquilo, com o que se passa no nosso Brasil; Tonhão, me olhou, entornou a “liza” góela abaixo, ficou pensativo, coçou a cabeça, com a mão calejada e, com um sorriso largo e feliz me disse:

-Intindí seu Silvo, nóis é quiném cachoro de rua, qui córri latino atraiz du caminhão di mudança, mais quandu eli pára, num sábi uquí fazê, intão levanta a perna e mija no pineu!!!!

Deu uma gargalhada de esperto, pediu outra liza, que virou num góle só, deu um tapinha no meu ombro e saindo falou, para me explicar melhor o seu entendimento:

-Vô espricá seu Silvo, eu sô u cachorro de rua e cum isperança tô correno atraiz dú caminhão, o caminhão qui tá andano i pára, é o Brazir prumitido, u mijo do cachorro somus ú povu, quí num intendi nada e num servi pra nada, í us pineus são us puliticus, juiz, patrão e tudus us ladrão, quí memo mijadus, continuam levando o Brazir imbóra!!!!

Me deu um aceno, eu fiquei espantado, olhando Tonhão descer a rua assoviando o Hino Nacional, tendo a certeza de que ele, muito mais do quê eu imagino, tá entendendo tudo o que está acontecendo no Brasil.

É, então tá então, Tonhão!!!!!!


(Saúde paz amor Véio D'Prospero)

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