Segunda-feira no Blog do Alex Fraga é dia de texto de reflexão do escritor e poeta de Curitiba(PR), Sylvio D Prospero, com "O Diário".
***Dedicado ao dia do livro (Véio D'Prospero)
Fiquei eufórico e feliz quando ele me escolheu e me levou para casa, colocou uma capa de celofane azul e na minha primeira página escreveu "MEU DIÁRIO".
Eu, que era apenas um caderno de brochuras com umas páginas em branco, passava à ser o livro da história da vida dele.
Conheci seus sonhos, seus medos, suas realizações, na tenra idade dos oito anos, como quando escreveu "tenho medo de dormir e sonhar com o lobisomem da história", "quero ser médico, para salvar todo mundo das doenças", "hoje roubei um doce da venda do seu Zé".
O tempo foi passando, e com ele eu também fui me modificando, de brochuras passando pelo caderno de arame, caderno de capa dura, caderneta, entre tantos outros, mas, sempre na primeira página lá estava eu "MEU DIÁRIO".
Seus anos foram passando da infância para a adolescência, quando escreveu, aos 12 anos," estou com pelos escuros no saco", hoje vi a calcinha da Meyre, era rosa", entrou na adolescência, quando aos 15 anos escreveu, " a Mirtes me deixa sem palavras, minha barriga dói e meu coração bate forte quando a vejo, o que será isto", e eu fiquei com vontade de lhe dizer, "isto é amor", mas me mantive, apenas aberto;
E de repente a juventude, com seus 17 anos, quando relatou "fiz sexo com a Lidia", "tomei um porre de cuba libre"!!!
Quando ele ganhou uma maquina de datilografia, ao completar 18 anos, eu me realizei, passei à ser escrito em letras de imprensa e me sentíium livro, o sonho de todo diário.
Quantas alegrias, quantas tristezas, muitas duvidas, inseguranças, segredos, descobertas, desabafos, ódios, compaixão, que ele foi dividindo comigo, e registrando nas minhas páginas.
Veio a informática e eu virei um NOTE, no computador, mas sempre participando da vida dele, como "MEU DIÁRIO".
O tempo foi passando, veio a esposa dele, que eu já conhecia, e sabia cada coisas que eles fizeram juntos!!!
Vieram os filhos e, eu ali MEU DIÁRIO, tendo o conhecimento de tudo, cada detalhe, cada momento, confidente mudo.
Por esta razão comecei a desconfiar que alguma coisa não estava bem, comecei à passar dias em branco, semanas, meses, apenas alguns comentários sem muita concordância, a repetição constante, por fim apenas poucas palavras "não consigo dormir", "passou mais um dia", "hoje não fiz nada"...
Por várias vezes tive vontade de perguntar o quê estava acontecendo, mas me mantive na minha fiel posição de MEU DIÁRIO, dele.
Fui me transformando num rascunho sem vida, sem alegria, sem ambição e, foi então que percebi que minha vida também acabara, não havia mais razão da minha existência, não havia mais dia...
Então para quê, MEU DIÁRIO??!!
(Véio D'Prospero)
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