Reflexão - Eu e o ato de parir, por Sylvio D Prospero
- Alex Fraga
- 18 de mar. de 2024
- 2 min de leitura

Segunda-feira no Blog do Alex Fraga é dia de reflexão com o escritor e poeta de Curitiba (PR), Sylvio D Prospero, com Eu e o ato de parir.
REFLEXÃO - EU E O ATO DE PARIR
(Véio D'Prospero)
Eu estava me sentindo estranho, com tonturas, enjoos, vontade de me saciar com gostos esquisitos, como nuvem de algodão, mar de marmelada, doce de feijoada, pastel de amendoim torrado, que ao mesmo tempo, só de lembrar, me faziam enjoar, aumentando a tontura por estar me sentindo andando num arame, esticado de uma perna à outra e totalmente abertas.
Passei levemente a mão na barriga e ali estava uma montanha, com seu cume gelado, e no seu interior, como um vulcão, fogo por dentro, algo querendo sair, como se fosse lava mole, quente, derretida, querendo ser cuspida, escorrer para um lugar seguro, se petrificar e continuar existindo.
Veio então a dor, profunda, em espasmos de minutos com compassos de contrações, se transformando em ondas do mar, indo e vindo, batendo forte... mansa... suave.
Então algo saiu de mim, com alivio ouvi um choro longo, soluçado, não de dor, ainda grudado ao meu corpo sem entender aquilo tudo, e que para seguir vida própria, foi separado de mim.
Minhas mãos trêmulas seguravam uma frauda amarela, sem distinção de gênero, uma leve dor no peito como se algo quisesse escorrer, fazia-me sentir ser a via láctea, correndo e seguindo aquele destino, querendo sacia-lo da fome de viver.
Então senti o sugar de uma boca, o roçar de pequenos lábios no esforço de engolir, senti outro coração batendo junto ao meu, ouvi um gemido leve, tranquilo, seguido de um bocejo, vi um sorriso meigo, um serrar de olhos, caindo num sono profundo.
Meu corpo relaxou, respirei profundamente, me senti sorrindo e completo;
Eu havia dado a luz!
(Véio D'Prospero)
Texto impecável! Parabéns.
Maurício Souza - Piracicaba SP