Sexta-feira é dia das escritas da historiadora, professora universitária, poeta e escritora de Dourados (MS), Joana Prado Medeiros, com Diário de uma Idosa.
Desabafo: ...As aranhas tecem e me sinto esmigalhada tecendo os fios que me tece. As horas se arrastam. Ando pela casa e falo sozinha. Danei a conversar com as plantas com o alho que corto. Fico cansada de cansar. A grande lida é imensa mal termina um afazer e lá vem outro, separo as roupas de cama e mesa e canto com o barulho da máquina de lavar. Olho a geladeira faço uma lista encomendo as compras, chegam esterilizo tudo... Só não esterilizo minha sede de conversar com alguém... Hoje cai em um pranto mudo vontade de falar horas a fio com alguém que me entende até sem palavras, alguém sem filtros sem prejulgamentos... Vontade de desmanchar meus medos e esperanças sem capa, sem toga sem citações e sem normas. Não tenho medo de partir, cheguei naquele ponto "do ponto" que a vida e morte é uma só uma sustenta a outra. Assim como quem compreende a alegria é porque sabe da dor. Ouço mantras e faço meditações até sonho com os grandes mestres e dai? Se no primeiro e meio quilo de prosa eu já descarto e compreendo que o ser a minha frente ainda não compreendeu que somos eterna construção... Que o que está em cima está embaixo, que somos todos um!!! Deito pranto aos seres “humaninhos” que ainda mantém o fígado como bússola, estes que acreditam em ponto final, choro piedosamente pois nada é finito...Acabo confirmando minha solidão antes pandemia e pós pandemia...Meus pares andam por ai ...Faço parte da raça dos “desassegados” daqueles que a égide do amor há muito se soltou do viés neoliberal...Que o amor vai além da troca além do dar e receber, além das cobranças pré-estabelecidas. Canso de ser ter um polegar opositor e um cérebro pensante. Sinto certa náusea do culto à individualidade, pois sou feita de dois cromossomos, sinto asco do pensamento dicotômico: Ou isto ou aquilo... Até quando?... Até quando iremos estabelecer bulas e receituários para amar? Para doar? Ando pela casa, perambulo entre jazz e moda ( música) cafona, mastigo chocolates e leio, leio, leio a mim e aos tidos "bons" e os "ruins"... Não estou aqui para classificar nem ordenar nada... Não sei de advérbios ou será de substantivos? O processo ainda me fascina a dialética me fascina ..Em contrapartida dói muito sair da Matrix...meus olhos ardem ? E os seus? Bem, antes da pandemia já me sentia sem lugar contudo o silêncio pandémico me proporciona um encontro comigo inenarrável essa consciência de ser cidadão do mundo flutua cresce e me faz só cada vez mais só no, obstante, ( onde por a vírgula, rsrs) cada vez mais inteira, estou pronta para viver aqui ou no andar de cima. A função da vida é viver e só. As montanhas os rios e oceanos preenche a terra que dentro de mim habita... O cosmos sou eu.
(Joana Prado Medeiros - 07/04/2021) É Pandemia. Respeite os direitos autorais é lei.
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