Reflexão – Diário de uma Idosa X, por Joana Prado Medeiros
- Alex Fraga
- 18 de mar. de 2021
- 2 min de leitura
Seguindo as reflexões da historiadora, professora universitária, poeta e escritora de Dourados (MS), Joana Prado Medeiros com seu Diário de uma Idosa.
Descobri que sou uma ponte pênsil anestesiada em processo cirúrgico... Faz quatro meses que mudei de casa... (40 anos no mesmo lugar). Trouxe o mínimo! Veio comigo alguns livros e todas as lembranças, os discos, notebook e um retrato de meus pais... Retrato do meu maninho deixei, trouxe algumas plantas e a roseira de minha mãe e a minha rede...Contudo, feito rio que encontra o mar estive hoje na casa velha que em mim faz pororoca...Abri as portas as janelas não senti abandono, ouvi os sons saindo dos panos que cobrem os móveis...Entrei cômodo por cômodo, abri gavetas senti o cheiro dos meus que partiram...Abri o guarda roupa e olhei meus inúmeros vestidos, echarpes, chapéus, sapatos e as caixas de bijouterias, perfumes vencidos...Desfilou na minha frente tantas épocas. E minhas gravatas! Ah, minhas gravatas eu tinha mania de usar roupas masculinas com camisa branca e gravatas coloridas, usava gel nos cabelos curtíssimos e batom vermelho era o look certo para não voltar sozinha para casa... Nunca falhou... Ousada, flertava com as noites nos bares a cantar MPB. Meus feitos teóricos na gaveta ainda são testemunhas das minhas desandanças. De chofre, fui pegando um bocado de coisas e trouxe para casa nova... Mais livros, minha coleção de latinhas, o jogo de xadrez, os meus chapéus e o chapéu de meu pai. Abarrotei o carro e na casa nova fui postando tudo... Que agora ficou gordinha... Cansada, nem quero decifrar sentimentos. Estou com saudades de mim. Bora ouvir um jazz... Ah, esqueci de contar agora lá na casa velha mora um bando de pássaros são os amigos do meu passarinho amarelo, são os guardiões da saudades!!!

( Joana Prado Medeiros - 19/02/2021 ) É pandemia.
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