Mais um texto da historiadora, professora universitária, poeta e escritora de Dourados (MS), Joana Prado Medeiros que deveria sair no dia de ontem, (mas por problemas técnicos estamos publicando o VII nesta quinta e VIII na sexta), em suas continuação com seus “diários”.
Infelizmente, aos 63 anos tenho que recordar que as paredes tem ouvido... É difícil abafar o choro enquanto abro latinhas de cerva e ouço Jazz. Carrego vestígios dos vestígios que grita na sola do meu All Star sujo e caminha nos olhos dos excluídos. Lembro uma canção que amo: ""eu vou voltar aos velhos tempos de mim vestir de novo o meu casaco marrom..." Baita dor rever o cotidiano dos espiões que ficam à espreita ceifando conquistas. É muita revolta penso: "talvez eles não entendem de luzes, não decifram vagalumes de lanternas". Ainda assim... Dói, dedilho os sonhos das revoluções que acreditei e amei, sinto os cheiros da casa que mora em mim....Reviro quietinha o cheiro quase morto da democracia de meu país doente...Tomava corpo minha adolescência em 1968 o ano que não terminou lembra? Sou filha da cultura pop Beatles, Rolling Stones, Caetano, Chico. Minha juventude inteira pisei leve os ladrilhos do AI-5, briguei, gritei, lutei e chorei. Sabe, a morte de Luther King? ...Eu chorei antes dos meus 15 anos e ouvi os gritos do Vietnã...E agora ??? Agora, você quer que eu use toca porque sou idosa? Qual teu ideário de idoso? Que eu esqueça meus alicerces? E o meu país feito uma enorme Margarida é despetalada..."Bem me quer...Mal me quer..." Eu ergo velhas bandeiras de caras novas. A luta continua. Ouço mantras.

(Joana Prado Medeiros 11/02/2021). É pandemia.
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