Mais uma reflexão da professora historiadora, escritora e poeta de Dourados (MS), Joana Prado Medeiros, que encanta todas as semanas no Blog do Alex Fraga.
Minha garganta seca...Passo até 72 horas sem falar com ninguém... Tô revendo minha lida...Minha sina como diz Wander Lee tô podando meu jardim... Já tão podado!!! Estou tentando elaborar minha biografia em pouquíssimas linhas e organizar meus textos para colaborar com uma revista e assim quem sabe tomar de novo o prumo rumo a novas realizações ...Preciso constantemente beber água e respirar o novo!... Para arejar o mofo de meus cansados dias. Revi um projeto que anos atrás coordenei junto com algumas alunas sobre idosos, não cabe aqui dissecar tal feito...Contudo, cabe aqui registrar que as memórias elencadas traziam como principal tônica "a memória do trabalho"! Garro a pensar onde fica a memória do lazer? O que muito me encabula, agora, que sou do grupo dos idosos é exatamente isso...Quando paro para refletir que o meu eu enquanto cidadã se constituiu e foi constituído através do trabalho...Do trabalho suado que gera lucros para a nação e que no final das contas não gera sustentação básica para o "ser ai no mundo" na condição de aposentado...O emocional fica bambo pendurado em um varal cujo a falta de visibilidade o põe a secar... É preciso muito equilíbrio físico e psíquico etc e tal para o reordenar de tudo isso...E reabrir com solavancos fronteiras no universo da produção além da cultura material. A solidão do não fazer é as vezes bem maior do que a solidão do ser. Complicada tal discussão... Cadê minha vida não vivida e sobrevida que viveu? Justo agora que tenho tempo de mim? Cadê o tempo e o locus de se fazer ouvir? De realizar os gritos que tenho? É nestas plagas que faço valer o verso de Fernando Pessoa: "navegar é preciso viver não é preciso".
( Joana Prado Medeiros) 08/02/2021) É pandemia.
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