Reflexão - Diário de uma Idosa 94, por Joana Prado Medeiros
- Alex Fraga
- 12 de jan. de 2022
- 2 min de leitura
Quarta-feira, no Blog do Alex Fraga, dia de texto de reflexão da historiadora, professora universitária, poeta e escritora de Dourados (MS), Joana Prado Medeiros, com seu Diário de uma Idosa 94.

Minhas andanças são pequeninas cabe em uma caixinha de fósforo. Círculos em quadrados ao redor de um eixo. Mercado, padaria e farmácia na mesma rua minha casa e a de meus filhos e da faculdade que trabalho. Também no mesmo bairro o viveiro de plantas que adoro e minha psicóloga, o salão de beleza e as duas amigas que de vez enquando visito e tomamos umas e trocamos rezas, mudas e sonhos. Contudo e sobretudo existe um tal de céu e muitas árvores e folhas ao chão e flores e mangas caidas nas calçadas e indígenas com seus olhos espichados um sol escaldante e a noite estrelas e uma lua que não tem poesia que consiga descrever. Também tem um vento que canta em minha varanda em suspirar na rede quando deito meus planos e medos. Para colocar veludos nas dificuldades ouço músicas e ouço o tinir das folhas secas na calçada de meu quintal e coloco cascas de ovos ao pé das plantas. Conheço as horas pelo claro das minhas paredes e desconheço as horas dos meus anseios. Acordo sempre, sempre cantando sorrindo e achando a vida bela. Ao meio dia desconjuro tudo e me sinto cansada as três da tarde me sinto realizada dona do meu destino e com a impressão que seguro a vida com as mãos...Deito a descansar mas, ao final da tarde a agonia do dia indo embora bate feito sarrilho no meu queixo disfarço as dores e sempre, sempre fico triste jogo um banho, jantar um livro e novelinha fico amuada feito gado apartado no curral...Mais tarde quando a noite toda vestida me convida para um Tête-à-tête enamorada fico e a poesia toma corpo me embriaga e coloco uma echarpe e chapéu Art déco bêbada de devaneios durmo...Minha vidinha é tão pequenina que cabe na concha de minhas mãos o necrochorume e o mel o engano e o prumo ou (des)prumo de ser humana demasiadamente humana...
( Joana Prado Medeiros 10/01/2022) É Pandemia.
Muy hermosa! Encantado com esse fluir repleto de dia, tarde e noite bem alimentados de poesia! parabéns Joana!