Sexta-feira no espaço de reflexão do Blog do Alex Fraga, o texto da historiadora, professora universitária, poeta e escritora de Dourados (MS), Joana Prado Medeiros, com seu Diário de uma Idosa 85.
Aquele Natal o primeiro...Recordo que uma vez eu tive um passarinho, não sei dizer que pássaro era, sei que era marrom já todo bonitinho era um filhote que do ninho caiu, eu tinha uns quatro aninhos na verdade quase cinco. Morava em um ranchinho de pau à pique eu meu pai e minha mãe, era uma morada provisória no meio da roça, enquanto meu pai construía a nossa casa. Minha cama foi feita em cima de umas sacas de arroz e havia uma divisória de sacos separando o local de onde meus pais dormiam. Um pequeno cômodo com um fogão improvisado uma trempe rende ao chão. Ali passamos um feliz Natal, minha mãe fez frango com macarrão e meu pai tomou vinho...( guardo até o hoje o litro era do Rio Grande do Sul tchê) O rádio foi ligado e ouvimos músicas. Eu estava feliz por demais com o achado dos achados tinha encontrado um bebê passarinho!!! tomei de conta foi o meu presente de papai Noel. Deitei cuidados, colocamos o bichinho em uma caixa de chapéu aquelas redondas que eu tanto achava bonita, cobri de retalhos, passei dois longos dias olhando e tagarelando sem parar, meu pai me animava dizia que ele iria sobreviver e depois iria voar e voltar sempre para me ver e dizia que ele viria em uma estrela à noite e de manhã no vento da janela minha mãe dizia parem de sonhar não enche a cabeça da menina de sonhos logo vem um gato e vai dar fim no pobrezinho...Eu preferia acreditar na força da vida e enquanto passava as mãos pequeninas em suas asinhas cinzentas ia tecendo ternuras o chamando de meu irmãozinho meu amiguinho...Passei o dia de natal revestida de sonhos...O meu passarinho comigo ficou o tempo suficiente para marcar em mim sua identidade de asas...Por sorte não vi seu corpinho inerte ...Acordei no terceiro dia de dona de passarinho e soube que ele voou...Danei olhar passarinhos tentando reconhecer quem me olhava diferente...Nada descobri...Se vivo ou morto naquele dia ( e até agora) nunca me importei... A única verdade que sei é que eu tive em meus braços em meu coração e todo o meu ser um passarinho que nunca me deixou...Fecho os olhos e ainda hoje vejo seus olhinhos olhando pra mim.
( Joana Prado Medeiros - 07/12/2021) É Pandemia.
Comments