Quarta-feira, no Blog do Alex Fraga, dia de reflexão com texto da historiadora, professora universitária, poeta e escritora de Dourados (MS), Joana Prado Medeiros, com seu Diário de uma Idosa 61.
Sobre o agridoce cotidiano, eis: ...Caminho por territórios nunca dantes caminhados, as regras que durante cinco décadas eu jurava que foram feitas para serem quebradas, agora, aos sessenta e quatro anos algumas são elencadas e as cumpro com alegria...Normatizo dias e horários e estas formalidades me fomentam uma certa constância que cantam para mim um certo "que" de estabilidade ainda que eu saiba que ninguém é o mesmo ao banhar-se no mesmo rio...O encanto do sol poente me acena e sei do pouco tempo que me resta, procuro, então, a doce arte do arrependimento...E como é belo arrepender-se...Neste filão de revés estou enjoada de quase tudo, uma rebordosa com gosto de cabo de guarda chuva acompanha minhas revoluções interiores difícil é e ao mesmo tempo encantador é...Nesta trilha quando o trabalho de vinte seis anos posto está, procuro feito uma adolescente velha os louros e os desmandos do que já fiz...Sem plateia e sem aplausos insisto em viver e afirmar que cuido de mim...Dai as horas marcadas e fielmente seguidas caminhar três vezes por semana, fazer uma novena, cuidar das plantas, das contas, escrever duas vezes por semana, beber e fumar e ouvir jazz ou rock uma vez por semana só ou com uma ou duas amigas, ir na terapia uma vez por semana...E ler ou reler dois livros por semana. E toda sexta feira almoçar com o filho, (com a filha eu almoço os outros dias da semana) e é também o meu dia de ir na cidade passear... E aos domingos missa on-line com padre Júlio Lancelotte e a tarde ouvir músicas clássicas e ver um filme ou documentário é o dia que dedico ao que "batizei dia da cultura rsrsrs"...Ah, e tenho para todos os dias quando minha disciplina está no ar as minhas aulas à distância...E ainda irei reiniciar minhas aulas de violão, sonho que persiste...Sobre as centenas de amores romanescos que vivi e que de quando em vez dão o ar da graça ou os novos fãs rsrsrs estes estão guardados em minha caixinha azul para posterior revisão, estão em uma espécie de limbo e eu estou para eles no mesmo limbo, faz de conta que estou em plena catatonia sem data para retornar. Estes feitos por ora me conferem o status quo que viva estou...Agora a pergunta que não quer calar é: fico estupefata justamente porque nunca fui tão disciplinada assim? Caio na risada será a famada maturidade? Ou resultado desse desgoverno que nos deixa desnorteados e precisamos de norte? Ou essa pandemia que nos enquadrou? Ou tudo isso junto e mais um tanto e quanto de tanta dor e perdas? Não sei, só sei que foi e é assim...E a verdade é que escrevo sentindo saudades da minha vida espalhada pela casa e não assim em cabides...Reboliça no meu peito minha velha e boa irreverência e a boêmia grita...Me ajusto aos ditames das dores que passei nestes últimos cinco anos e vislumbro a Joana desgovernada entregue à vida louca para dar às caras sem medo, sem regras, sem hora para deslindar...Lembro agora de meu pai me dizendo em dias de chuvas não se conserta telhados...Dias secos viram. Ah! Arrepender do feito é salutar é oportunidade de crescer...
( Joana Prado Medeiros - 10/09/2021) É Pandemia.
Tentei comentar na postagem do Alex, Joana, mas não sei o por quê, mas não estou conseguindo comentar nada na espelunca virtual...
Não desista do violão... Ano passado comprei um e resolvi maltratá-lo, como fiz durante décadas... Ainda não andou o desejado, mas estamos na lida...