Reflexão - Diário de uma Idosa 270 por Joana Prado Medeiros

Quarta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de reflexão com a professora universitária, historiadora, poeta e escritora de Dourados (MS), Joana Prado Medeiros, com seu Diário de uma Idosa 270.

HOJE É MEU ANIVERSÁRIO... FEITO PARA-BRISA...

Em tudo por tudo me pego pensativa na lida e na vida. Não sei nomear o que me vai e o que me vai é um contentamento descontente. Feito um leque que me abana com fitas coloridas e desfia fio a fio a vida. Ando perdendo peso a cada passo, e caminho para o limbo por ora na floresta densa do vivido. Se por um lado remesso louvores por outro destilo lodo nos feitos. De qualquer ponto do ponto conto um rosário de revisão sem julgamentos, mas sem passar pano na cabeça. Arrependimentos sem condenação e louvores sem coroa. Estou de partida, isso é fato, estou feito para-brisa de carro em dias de chuva...Sou feita de saudades se ficar tenho saudades dos que moram nas estrelas e se partir tenho dores por conta dos que aqui ficam. De modo que não estou pra ir e não estou para ficar, por lado a missão aqui está comprida, consegui e isso me conforta. Lidar com tudo isso é uma tarefa bastante poética e um tanto quanto incompreensível. Se na esteira agora pouca coisa me alumbra e sinto um descaso desconcertante, fica difícil ouvir conversas e até entabula-las complicado gosto do desgostos e nada ou quase nada me inflama. Essa mesmice dos dias me apavora e ao mesmo tempo faz cócegas. Quem sabe as horas de manta, de sonhos e cama me aquecem. Não tenho pretensão de vazio e nem de enchimentos. No obstante, tenho pressa na calmaria de envelhecer. Serei feito telhado velho que aguarda os destemperos do tempo até o último instante. Não enjoei das pessoas, apenas, tenho comiseração por elas e por mim. Hoje dia 27 de Maio completo sessenta e oito vivendo neste glorioso planeta. E sinto- me surpreendida não esperava viver tanto. E quanto do tanto que me encanta me deixa também desencanto e finalmente sei que não irei cometer suicídio, sei por ordem dos alos do arco íris que irei sim aguardar pacientemente e com quase alegria o dia da partida. Sempre amei este dia, desde criança jogo água benta nesse dia pois é também o aniversário do meu pai Pedro Medeiros o meu ídolo o meu herói e alma companheira nesta aventura galáctica. Ao mesmo tempo que rendo graças rendo farpas de partida como um espelho quebrado sem cair ao chão assim me encontro. Talvez por isso tateio o solo em busca dos sentimentos que me compõe. Tenho vontade de ter ganas, mas estão embebidas no caldo quente da transição do humano aqui com o humano lá. Sei que o céu é grande ( e quem não sabe!) no momento só quero desaprender e desaprender e o que espero é apenas fazer minha alma rir como um passarinho que voa. Espero uma lavoura de trigo para me deitar ouvindo o som das folhas murmurando sob o sol que se põe.

( Joana Prado Medeiros - 27/05/25 -Direitos Autorais Lei 9.610/98)