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Reflexão - Diário de uma Idosa 236, por Joana Prado Medeiros

  • Foto do escritor: Alex Fraga
    Alex Fraga
  • 2 de out. de 2024
  • 2 min de leitura

Quarta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de texto de reflexão com a poeta, escritora, professora universitária e historiadora, Joana Prado Medeiros, com "Diário de uma Idosa 236".


VIOLÊNCIA DOMÉSTICA


Naquele dia, acordei para mais um dia abafado e abafado em todos os sentidos. Já fazia algum tempo que o abafamento fazia parte do meu riso, fala e olhar. Acordei cedo, bem mais cedo do que era acostumada, fui logo agindo, fui ao super mercado peguei algumas caixas, sacolas de plásticos e corri para casa. Passei toda a manhã e parte da tarde, embalando suas coisas, arrumei suas roupas, seus objetos. Depois, arrumei toda a casa, lavei tudo, mudei os móveis de lugar, troquei a cortina do quarto, coloquei um abajur novo em meu criado mudo. Deixei na sala suas malas, pacotes, caixas, enfim, seus pertences. Às 15 horas fui para o salão cortei e pintei os cabelos, fiz manicure e pedicure. Volto para casa, tomei um banho e coloquei um vestido esvoaçante colorido, salto alto, batom vermelho e pronto. Fui para a sala aguardar sua chegada. Você passava a semana viajando à trabalho e na Quinta ou na Sexta feira retornava para casa. Você abriu a porta sorrindo, trazia nas mãos uma sacolinha de pão e um refrigerante e me perguntou olhando para as malas o que é isso? Respondi é sua mudança a partir de agora você vai embora, não se preocupe não precisa ser nesse exato momento, se quiser tome um banho, faça seu lanche e depois por favor vá embora, eu vou para a faculdade ministrar minhas aulas. Quando você sair deixe as chaves no tapete e não se preocupe eu já entrei com o pedido do divórcio (casamos com separação de bens) eu irei arcar com os custos. Recordo você pálido, sem fala, ficou estático. E quando retorno da faculdade você não tinha ido embora. E foi a minha vez de nada dizer e você foi falando e falando tentando mil argumentos para salvar o nosso casamento de dez anos. Eu nada dizia (havia dito muito e de todas as maneiras possíveis) e naquele momento dizer o quê? Por fim, eu disse se você não vai, saio eu...E você se foi e continuou me atentando me difamando feito um diabo velho despeitado. O divórcio foi um custo, mas saiu. Só não saiu o pavor que tenho de homens machistas, narcisistas e cruéis. Em um primeiro momento o pavor paralisa, porém, depois, o mesmo pavor nos faz agir e abraçar a luta. Na terapia tomo a cada sessão goles de consciência do quanto fui vítima da violência doméstica. A cura é um caminho longo que percorro firme.


( Joana Prado Medeiros - 01/10/2024 Direitos Autorais Lei 9.610/98)

 
 
 

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Guest
Oct 02, 2024
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