Quarta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de reflexão com a professora universitária, historiadora, poeta e escritora de Dourados (MS), Joana Prado Medeiros, com seu "Diário de uma Idosa 232"
ORELHÃO UMA PAIXÃO DE 1,1K...
Tudo o que eu queria aos vinte anos era que houvesse um telefone que ligasse de eu onde estivesse. Quase aos vinte e um anos eu rebolicei todas as minhas vísceras, vivendo a primeira grande paixão. Andava enlouquecida a procura de um telefone, (queria morar na central telefônica da cidade). Era capaz de cortar capim guiné do quintal do vizinho para ganhar a chance de fazer uma ligação para o meu Italianin. Fiquei enlouquecida de alegria quando foram criados os orelhões e caminhava léguas para fazer uma ligação. Deixava de comprar sorvetes para comprar fichas. A bolsa de crochê ou a de couro que trouxe da Bahia tipo embornal atravessada no peito era pesada de tantas fichas. Quando, enfim, colocaram um orelhão na frente de casa na minha casa, minha mãe já havia comprado uma linha telefônica, coisa cara e motivo de status, mas ela colocou um cadeado para controlar os gastos. E também eu preferia ligar do orelhão pra mode falar coisas de amor para ninguém escutar. E também queria postar ao mundo os meus males feito e os nem feitos. Como seria bom não enfrentar somente as comadres de minha mãe e os tios e tias, madrinhas e padrinhos e o primos certinhos. Que honra e glória seria escancarar (além dos muros da cidade) minha barriga de filho solo, minha bata indiana e minha boina do Che Guevara...Meu boton foice e o martelo e minha bronca ferrenha com a Coca Cola. Naquele tempo no interior do interior eu pensava que não passava. Mas passava marcando época e confirmando números, fazia parte do grupo que lutava por uma sociedade justa, plural e polissemica. Como eu queria mostrar ao mundo que discordava de toda ordem pré-estabelecida, que não respeitava a fluorescência que jaz na poligamia do quadrado da hipotenusa das pluralidades...Que felicidades sinto agora na fase idosa raiar idiotices " idosisses" disformes e postar nas minhas redes sociais duplamente verdades inverdades com bicos diversos na conjuntura desconjuntada. As lindas tessitura das leituras multifacetadas da sociedade líquida. Quer saber, tudo que é líquido me fascina, flui, flutua, e sendo paixão escaneada e copiada desce melhor ainda. Ah, os orelhões eu não podia ver um que caia dentro.
(Joana Prado Medeiros - 03/09/2024 -Direitos Autorais Lei 9.610/98)
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