Reflexão - Diário de uma Idosa 227, por Joana Prado Medeiros

Quarta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de texto de reflexão com a historiadora, professora universitária, poeta e escritora de Dourados (MS), Joana Prado Medeiros, com seu "Diário de uma Idosa 227".

O DIA QUE NÃO ACABOU...

Não era uma noite qualquer. Vi teus sonhos batendo nos pneus do teu carro. Era noite de réveillon fiquei cuidando sua filhinha e você com sua mulher saíram para comemorar com os amigos. Fiquei em seu quarto com três crianças meu filho, minha filha e a sua princesinha. Revirei cinzas e rosário e não conseguia dormir eu tinha um mau pressentimento, uma coisa, um sentimento de perda me fazia companhia. Para minha alegria vocês retornam. Passamos o dia de Ano Novo em paz. Dia dois de Janeiro resseca e faxinas, limpeza da churrasqueira, garrafas guardadas tudo morno com alegria e pão em família. Dia três Janeiro amanhece com cheiro de sabão, roupas no varal. Batatas no fogão e você limpando o carburador do Fusca recém retificado. Na hora do almoço você me dá um arranhão no braço, fico brava e vou dormir. Você sai, vai levar o Fusca para últimos ajustes. Calça meus chinelos eu dormindo não vi tua saída. Acordo com o telefone tocando teu irmão bateu o carro e machucou feio a cabeça. Tresloucado três de Janeiro, caminho no corredor de casa e antes de chegar à rua vejo minha mãe parada, estática dizendo meu filho se vou! Não acreditei. Fui ao hospital e vi você tão jovem tão lindo na sala de emergência recebendo os primeiros socorros, eles estavam fazendo uma traqueostomia. Não entendia aquilo, não me viram entrar e eu assistindo...De repente gritei volta maninho! Volta! maninho volta... Maninho volta, volta. Me tiraram da sala, me tiraram da vida.

(Joana Prado Medeiros 23/07/2024 - Direitos Autorais Lei 9.610/98)