DIÁRIO DE UMA IDOSA 192 -
UM PEQUENO DESCUIDO, UM PEQUENO DESLIZE...
Você morreu faz tanto tempo...Que hoje ainda assim quando por descuido de um relâmpago te vislumbro vejo a dor viva escorrendo sangue, vísceras abertas tão pungentes que cerro os olhos e o peito arde. Por vício construído nas farpas da tenacidade desvio o corte dos olhos de dor e estrangulo a lembrança como se deve fazer com o pescoço do galo que canta antes da traição...Inerte, permaneço, hirta respirando devagarinho fazendo de conta que já se foi, que não existe mais...Que nem um beijo ardente se deu, que nenhum gozo que foi ao céu em oração aconteceu, que não te vejo mais escondido sob a árvore, não vejo o beija flor, o beija flor nunca existiu...Deito do lado esquerdo e aperto o coração, pronto...Aqui estou, refeita da morte não morrida que você morreu, é tão sufocada esta lembrança, dói tão forte, tão doído.
( Joana Prado Medeiros - 21/11/2023 Direitos Autorais Lei 9.610, 19/02/98)
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