Quarta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de texto da historiadora, professora universitária e poeta Joana Prado Medeiros com seu Diário de uma Idosa 116.
DIÁRIO DE UMA IDOSA 116
Tinha os olhos pequenos mui pequenos para uma testa tão longa. Tinha o queixo quadrado e um sorriso médio. Ombros pequenos para mãos grandes um peito quase franzino pulmão apertado e coração mais apertado ainda. Cabeça grande e memória longa. As mãos sempre rabiscando projetos intermináveis. Tinha prumo no senso de justiça, sangue quente a borbulhar sonhos e contentas incompreensíveis... Me lembrava o Coronel Buendía. Em seus derradeiros tempos choveu sem parar por cem dias. Seu mapa de terras foi tragado pelos troncos das árvores mata à dentro. Falava de passarinhos, amava os pardais, vivia a honestidade e a coragem de ser o que se é. Era construtor de sonhos, de móveis e casas e caiu de uma varanda de três metros e sua vida encerrou...Na época Lutava contra grileiros e posseiros. Morte inexplicável e estranha no sertão de Mato Grosso. Na minha infância eu dormia na abertura de sua acordeon e brincava em seus cafezais. Na minha juventude sua coragem eu adotei e somente agora eu compreendo a solidão de seus olhos meu tio e padrinho Juvêncio Prado Marques...Um filho de Gandhi, um sonhador! Seus sonhos verde-café matizam o meu viver...E juntos voamos você no além do além e eu cá e não acreditamos em salvadores da Pátria.
( Joana Prado Medeiros ) Ainda é Pandemia.
Adoro seus escritos cheios de farturas e poesia