Poesia - Ás Águas de Piraputanga, por Sylvia Cesco
- Alex Fraga
- há 16 horas
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Sexta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com a poeta e escritora de Campo Grande (MS), Sylvia Cesco, com As Águas de Piraputanga.
As Águas do Piraputanga
Sylvia Cesco
Reconhecerei suas águas
que atravessaram os tempos,
guardando os meus segredos
e os sagrados peixes
que viveram embaixo delas?
Estarão inda vestidas de transparente liquidez
por onde a gente enxergava e pressentia
a natureza inteira em estado de prenhez?
Era lá que eu mergulhava os meus pés pequenos
Quando ia com Elvira Mathias, minha tia,
ajudando-a a carregar uma bacia
cheia de roupas dos filhos, do marido
e também as dela:
-roupas sóbrias de professora-autoridade
na Colônia Velha de Terenos...
Hoje, minha tia virou nome de rua e de escola...
Se pelo menos houvesse ainda aquela bica d’água
e o velho monjolo embaixo da mangueira
já me daria por contente
e aliviaria da saudade a mágoa...
Mas o tempo que enruga nossa cara
também enruga a terra e a semente
que nela foi plantada:
-o gérmen de uma infância descuidada
florescida às margens de um pequeno rio,
que para mim inda é o maior do mundo,
maior que o Amazonas, que o Rio Aquidauana
e o Paraguai:
-o Rio Piraputanga, onde se afogaram
bem no fundo,
as estórias infantis da minha vida,
com suas ingênuas alegrias mas também
com os seus ais.
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