
Alex Fraga
Poesia - Tricotadeira de versos, por Sylvia Cesto
Sexta-feira no Blog do Alex Fraga é no espaço de poesia é com a poeta e escritora sul-mato-grossense Sylvia Cesco, com " Tricotadeira de versos"

Tricotadeira de versos
Sylvia Cesco
Costurei ponto por ponto, no céu da tua boca,
meu dicionário de mágicas rimas
Utilizei somente linhas grossas, nunca finas:
-Estão pregadas lá, feito estrelas loucas,
aguardando seu tempo bom pra poetar
Colei no labirinto sutil dos teus ouvidos
uns versinhos mais mudos do que surdos
e despejei-lhes, por cima, sal e água morna:
Estão ainda lá, estribados na bigorna,
esperando, a postos, para martelar.
Remendei , no castanho escuro dos teus olhos,
os pedaços aveludados de um poema
que certa feita, eu fiz , juntando abrolhos.
mas, estão inda lá, aguardando pacientes,
A hora exata pra lacrimejar
Tricotei buquês de brancas margaridas,
de dálias, flor- de- lis, de rosas sem espinhos
e, suavemente, levei-os às tuas narinas:
talvez estejam inda por lá e quem sabe já murcharam,
à espera que acendas teus perfumes.
Trancei teus dedos ao redor da minha cintura
tricotei-os, remendei-os, coleio-os, costurei-os,
pensando, por instantes, estar segura,
com os nós de macramê, de frade e marinheiro:
Desenrolaste-os um a um... Que desventura!
"Não fora eu, mulher ateniense"...