Segunda-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com o professor universitário, poeta e escritor de Campo Grande (MS), Isaac Ramos, com "Tempestade Morema".
TEMPESTADE MORENA
(Isaac Ramos)
O que há de concreto em mim é o verso
Seguro, maduro, insano e profano
E o inverso disso esvoaça em desejos cortantes
Fazendo-me prisioneiro de um tecido anátema
Não sei qual parte expurgo
Não sei qual parte me abate
Sei apenas que varro versos enxutos
E desovo metonímias evasivas.
Prefiro metáforas acidentadas
A prosopopéias comportadas
De que me servirão versos empolados
Se o que me empolga são maresias emboladas?
Súbito, ergo meu líquido fluido
Incendeio bordas da tempestade casta
Volumosa e áspera, ela despenca tórridas gotas
De verões algemados, de adúlteros mares
De rios agregados que se cruzam e deságuam.
Escureço e duelo com Netuno
Enrosco-me em Minerva
Só para deflorar metáforas
E ouvir suspiros que abafam
Gritos vindos dos outeiros.
Acendo candeias
De gotas grávidas
Que consomem
Pouco a pouco
Meu líquido plasma.
Simulo cortantes ventanias
Disparo raios
Como se fossem chibatas
Que flecham alvos púberes
Mas também flecham versos
Que embriagam.
Gota a gota se espraiam
Em voltagens que atam
Não matam, porém desfalecem
Não ferem, porém entorpecem
Não arranham, porém assanham
Não chocam, mas despertam manhas.
Sou tempestade morena
Fruto de muitos verões
Água densa que engrena
Inúmeras paixões
Sou enxurrada que estilhaça
Pedaços de corações.
No mais acerto o compasso
Em eterna sublimação
Só para esperar o regaço
Do sol de todas as manhãs.
❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️👏👏👏👏👏👏💪🏾💪🏾💪🏾💪🏾