Poesia - Sonho Medonho, por Paulo Portuga

Quarta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com o professor, músico, poeta, compositor de Dourados (MS), Paulo Portuga, com "Sonho Medonho".

SONHO MEDONHO

Ontem eu tive um sonho

Sonhei com aviões

Mergulhando do céu ao chão

Sumindo numa bola de fogo

Eu estava na rua

Junto de outras pessoas

Meus passos eram lentos

Bombas de ódio explodiam

Aqui e acolá

Prédios inteiros sucumbiam

Escombros de concreto

Ferros retorcidos e pó

Quem podia correr corria

Quem não podia

Sumia numa sombra escura

E a morte ceifava

A vida sem dó

O céu ardia

Num tom de laranja infernal

Mal acabava um ataque

Outro logo acontecia

Mães gritavam

Crianças choravam

E a terra tremia

Eu não sabia o que fazer

Em meio à barbárie

Não sabia o porquê

Não havia onde me esconder

E fiquei ali parado

Entre fuligem e fumaça

Entre almas soterradas

Vendo corpos destroçados

Não sabia quem estava certo

Ou quem estava errado

Eu era só mais um

No meio do fogo cruzado

Que ao meu ver

Só vinha de um lado

E tudo destruía à sua frente

Chovia fogo e enxofre

Destruindo as cidades e seus moradores

Os vales e toda a vegetação

Parecia o fim do mundo

Um dia que o mundo não iria esquecer

Até que chegou a minha hora

E na hora agá

Acordei do sonho medonho.

O novo dia surgia

Por detrás da cortina

Lembrei sobre o que acontecera

Lamentei que na real

Ainda há muita dor e horror

Longe ou perto de mim

E o que eu posso fazer?

Não sou uma estátua de sal

Eu vou fazer poesias

Os canalhas odeiam poesias...

Paulo Portuga, 08/04/2024.