Sábado no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com a escritora e poeta de São Paulo SP, Paula Valéria Andrade, com seu poema intitulado Sociedade do cansaço.
Sociedade do cansaço
Se há um só tempo
do acontecimento
tudo a um só tempo
Se tudo é o tal do acontecimento
nada de fato
em si
acontece
Tudo efêmero
espasmo fugaz
de segundos
Gritos fúrias ecos
ecoam distantes
E vem outro
com gritos e fúrias
E um segundo adiante
já não será
o que era antes.
Logo, não se sabe pelo que se grita e pelo que se
enfurece, mas imperativo é seguir gritando e se
enfurecendo.
Sem perguntas. Certas ou tontas.
Cansados e temerosos de tudo, de todos e dos
poderosos.
Seguimos zumbis andantes e náufragos flutuantes e
nos auto presenteamos com mais bugigangas
digitais – a mais – e sempre demais.
Pensamento ausente relocado no reflexo
imperativo de preencher vazios, com palavras.
Nadas imediatos continuam sendo nadas. Ou coisa
pior. Ocas coisas soltas ocas.
Quando tudo é urgência nada é urgência.
Nada se faz mais emergência
O vazio faz cena e teatro, da tal clemência.
Sendo um tal presságio, da demência.
Sociedade do cansaço
em estado de emergência
Amalgamados de sofrer
e tanto querer
querer querer querer
Alagados no reclamar
sem saber como parar
Repetições de ineficiências
síndromes de ausências
profusão de totens de aparências
espasmos ao respirar
Aonde mesmo, foi parar o luar?
Lua lua lua que vagueia com sua luz cheia
Na noite e no vazio escuro que nos permeia e
incendeia.
Título: termo inspirado no livro sociedade do cansaço. Do autor e filósofo: Byung-chul han.
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