Quarta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com o poeta, escritor e músico de Dourados (MS), Paulo Portuga, com o poema intitulado: Saga de ervateiro.
Saga do ervateiro
Coitado do ervateiro Amassado no barro Pelas mãos do artista Debaixo da mangueira Deitado no chão Repousa então...
Disseram que ele é feio Porque não é o Fábio Assunção Ele é de Concepcion...
Pudera ser O ervateiro mais feliz Mas como poderia? Se carregava na vida 200 quilos da dita economia Até 200 quilos Nas costas o infeliz...
Não é Fábio Assunção Mas é de Concepcion.
Que desrespeito Com o mestre Cilso Com a obra de arte Com a concepção do artista Senão o melhor, Senão o mais belo, Mas o mais justo monumento Para quem deu o sangue Nestas terras sem fronteiras.
Quem discute se é belo Não entende Que era singela e justa homenagem Ao pobre homem Que geriu com suor As rodas de então Viola e tereré, Canção e chimarrão Embaixo da mangueira Repousa agora O barro voltando ao barro O ervateiro sem pernas Sem chão Que outrora sustentaram Parte desta nação.
Só porque é feio, O pobre ervateiro Arrancado da visão De quem passava na avenida E agora não sabe Da história, da arte Que o homem se fez do barro Assim como o nosso coitado Ervateiro abandonado Embaixo da mangueira À sombra da solidão.
Agora ninguém Sabe se o ervateiro Confrontava a estética À moral ou ética Das terras de Antônio João Que dizem por aí Que por aqui nem pisara O tenente com seu batalhão.
É melhor um nobre soldado Que um pobre coitado Ervateiro com força titã Mais vale um herói com armas Que um homem com facão Que cortava a erva Cancheava e transportava Por léguas e léguas o Raíro até o barbaquá Pobre ervateiro, pobre guarani Nunca acaba seu martírio.
Um dia quem sabe O esquecido índio Como tantos outros Que ainda sucumbem Sem água na cacimba Sem erva na guampa E sem memória...
A corda desceu da testa E agora aperta a garganta Uma estátua que não é de santa Facilmente se arranca Que não é bela De barro feito à mão.
Paulo Portuga
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