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Poesia - O Broto do Ano Novo, por Isaac Ramos

  • Foto do escritor: Alex Fraga
    Alex Fraga
  • 1 de jan. de 2024
  • 1 min de leitura


Segunda-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com o professor universitário, poeta e escritor de Campo Grande (MS), Isaac Ramos, com O Broto do Ano Novo.


O BROTO DO ANO NOVO

(Isaac Ramos)


O ano velho é vida que se esvai

pouco a pouco


Perde folhas como um

Alzheimer programado


A mãe-natureza, em cena,

ensina celebrações


Cada detalhe das estações

deve ser percebido


No verão, a chuva acaricia

telhados


Galhos e raízes em palavras se

arvorizam


No outono da situação, versos e

prosas


Nunca devem secar


No inverno, há que cuidar da

memória


Para que as lembranças não se

congelem


Relatos de amigos mantém

acesa a lareira da amizade.



Se um pássaro triste se perde

do bando


Outros devem lhe acudir ao voo


Velhos amigos devem se sentar

à mesa


Ainda que seja uma vez ao ano

Para repartir o pão, o vinho e a

cerveja


E cantar em voz rouca


Antigas canções


Como nos ensina Paulo

Simões.



Velhas amizades são guardadas

em represa

Só que, de quando em quando,

é preciso evasão


Se não a saudade não se

aguenta


Faz lambança e à lembrança

arrebenta


O arco-íris melhora a

imaginação


Risca no chão de giz quando é

primavera


E, no verão, a chuva rega o

poema.



O fio da inspiração precisa de

um elã


Se não as memórias do outono

se tornam ruínas


E o cimento das palavras

Não erguerá a parede sólida do

poema.



Pro ano nascer feliz


É preciso amar sem nada

cobrar


Dar oportunidade de fazer as

pazes


Com o outro, consigo mesmo


Ou, pelo menos, tentar


Se não será apenas uma árvore

morta.



Quando o Ano Novo chegar


Quero ser plateia na multidão


Quero ser o pó da palavra

bendita


E que restem apenas, no chão

O broto intocável da muda do

amanhã.

 
 
 

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