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Poesia - O último pulo de Juma, por Isaac Ramos

Foto do escritor: Alex FragaAlex Fraga

Segunda-feira no espaço de poesia do Blog do Alex Fraga é dia do professor, poeta e escritor de Alto Araguaia (MT), Isaac Ramos com O último pulo de Juma.

O ÚLTIMO PULO DE JUMA


Nos ventos rajados de junho, Entre desejos olímpicos, Uma Juma passou por mim. E meu coração amazônico Nem percebeu o que estava por vir.


Eu não matei Juma. Nem construí Ciclovia desmoronada. Não calei a voz de Juruna. Único índio eleito Até hoje deputado. Não fechei escolas. Não terceirizei o ensino. Não criei a lei da mordaça. Mas, por acaso, Fui às ruas e às praças E como um pato, Na lagoa, Acreditei Que um dia Acabaria Com a corrupção.


Só não sabia que, Enquanto gritava E batia Nas panelas Teflon, Na surdina, Inúmeros deputados Preparavam um banquete Sob a forma de redenção. À sobremesa, Me serviriam como otário. E nem perceberia Que estava sendo extorquido, Como parte do plano Da nova Nação.


Eu não matei Juma. Mas sempre assistia A filmes épicos. Mostrando A Roma Antiga E os escravos, Ao lado dos bichos Acorrentados (O importante Era o espetáculo!).


Eu não matei Juma. Mas gostava De circo, de pão e de vinho. Nunca liguei Para o vizinho Esquisito Que empunhava Uma bandeira Vermelha E gritava: “Não vai ter golpe!”.


Eu não matei Juma. Muito menos Rubens Paiva, Chico Mendes ou Marighella. E o que dizer Das lideranças operárias, Dos índios De todas as etnias Que se suicidam Ou são trucidados?...


Uma tocha, Olimpicamente, Passou por mim. E a chama vermelha Nem me remeteu Ao sangue que escorre Da goela da onça, Dos animais extintos, Do povo distinto. Muito menos atentei Para as sucuris Governantes, Que estrangulam Os direitos dos cidadãos.


Eu não matei Juma. Mas, por algum motivo, Juma ruge dentro de mim. E, por isso, o poema me abate. Só que não me tranquiliza. Jamais!


22-06-2016 (Isaac Ramos)

 
 
 

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