
Segunda-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com o professor universitário, poeta e escritor de Campo Grande (MS), Isaac Ramos, com "O último Carnaval "
O ÚLTIMO CARNAVAL
(Isaac Ramos)
Lembro-me da nossa última noite
Era uma noite de Carnaval
E a banda ainda não havia
Tocado a última música
Música a qual tínhamos direito
Pois o momento não era de despedida
Lamento, compaixão ou despeito
O momento era de alegria!
O seu corpo transpirava sensualidade
Tanto que após um beijo morno na orelha
Ele todo já se arrepiava
E dos seus cabelos molhados de suor
Saía um cheiro de poeira azul e fumaça de prata
Que se esparramavam pelo pescoço
Da personagem de um conto de fadas.
E o seu corpo ardendo em brasa
Abrasava ainda mais a minha solidão
Solidão de poeta, paixão de homem
Concentrada na luz daqueles olhos claros
Enquanto isso seus cílios aplaudiam-me
Mas não me acenavam, e eu ficava em dúvida.
Porém, percebia que estava tudo acabado
Nem a combinação colada em sua pele
E que eu distraidamente notava
Através do short e da blusa estampados
Nem o sorriso largo e cativante
Que sempre trazia consigo
Fosse qual fosse a situação
Nem a busca do ego sucumbido
Das nossas conversas existenciais
Nem o beijo roubado e sustentado
Da nossa primeira noite de amor
Nem a esperança, nem o acalanto
Que mudavam a função daquele coração
– Faziam-no bombear lágrimas no rosto rosado! –
Nem a ternura dos momentos distantes
Obtidos nas longas cartas de amor
Nem os versos trocados e disputados
Em cima dos momentos de inconstância
Desacerto, recordação e perdão
Fizeram-me acreditar que errei.
Fez-me ouvir inúmeras frases
Que sustentavam o valor
Que deveria ser dado às pequenas coisas
O amor concebido, a busca incessante
Do elo perdido, mas tudo foi em vão!...
E por isso estou aqui
Escrevendo estes versos
Que fogem da caneta e vasculham
O meu presente, porém eles nada encontram
A não ser recordações que tragaram-me
No meio de vagas paixões
Que surgem como meteoros humanos
Sem provocar nenhum deslocamento de palavras
Na atmosfera dos poemas de amor
E atracam nos oceanos de vida
De um poeta que finge vive de amor.
(livro ASTRO POR RASTRO, 1988, p.19-20)
Comments