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Poesia - "Nemo nas entrelinhas", por Isaac Ramos

Foto do escritor: Alex FragaAlex Fraga

Segunda-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com o professo, poeta e escritor Isaac Ramos (Alto Araguaia MT), com "Nemo nas entrelinhas"


NEMO NAS ESTRELINHAS

(Isaac Ramos)


Numa tarde augusta de agosto de 2018, um pequeno cachorro, Magro, pulguento, cheio de vermes, Passou no vão do portão lateral de minha casa. (Escutei um barulho na cozinha) Eu trabalhava com livros, ali Nemo (res)surgia. Veterinária, vacinas de praxe, banho e tosa, O cachorro de rua, que poderia morrer ou sobreviver, Logo ganhou um lar ou, diria, intensos (l)ares. Bem cuidado, o pelo rápido ficou vistoso, Garboso, latia e a todos encantava.

Entre uma viagem e outra, ali Nemo ficava Vivendo outros (l)ares. Nunca sozinho. Rapidamente, ganhou brinquedos e muito carinho. Lépido, brincava com meias, mordia o forro do sofá, Roía o calcanhar e lambia os dedos de quem gostava. A alegria tomou contou da casa, Ele me fazia lembrar de outro que morrera anos antes, em Manaus. Segundo minha filha, nos sonhos, os dois conversavam cachorradamente.

E veio a primeira doença do carrapato, Todo cuidado era pouco. Para tanto havia um “Cantinho dos Bixos”. Com remédios e muito carinho foi bem tratado. A cada viagem que fazia, eu me lembrava do pequenino. Cuidava o corredor de entrada e me esperava garboso, Pelo mesmo portão que um dia entrara. Eu saía e dizia a ele aonde ia. Ao dormir, dava-lhe boa noite. Quando eu acordava, ao abrir a porta do quarto, ele me latia Um bom dia e acenava seu (pe)lúdico rabo. Deitava-se no chão ou em cima do sofá, à espera De que eu passasse a mão no seu pelo, antes do café da manhã.

Comprei-lhe uma placa de identificação, que continha seu nome e meu telefone. Após um ano, não mais cachorro de rua, comecei a passear com ele. (Tinha medo de fazer isso antes e que fosse reconhecido) Todos queriam saber a raça dele. Mero detalhe. Um belo dia conheceu Britney, uma cadelinha de rua. Engravidou-a de 5 filhotes (talvez com mais de um pai). Creio não poderem ser chamados de bastardos, Afinal Nemo um dia fora de rua. Dos filhotes, a única fêmea logo morreu. Depois um macho, em seguida, a mãe.

Nesse ínterim, Nemo passou a não mais comer sua ração. Bebia pouca água, mas ainda gostava dos passeios de final de tarde. Passou a ficar somente embaixo da cama. Pedi que Nemo fosse levado à veterinária. Cheguei de viagem e soube o diagnóstico: doença do carrapato. Nessa madrugada, Nemo virou estrelinha. No céu dos cachorros, foi recebido pelo outro Nemo. Suas almas se encontraram.

Porque hoje é sábado, fui acordado Pelo toque de lamento de uma sanfona, perto de casa. Lá em cima, Nemo balança seu rabo, Late, segue a brincar com outras estrelinhas. (Nesta manhã mais um filhote foi se encontrar com os pais.) Enxugo as lágrimas e (re)torno à escrita do poema. Nas entrelinhas, ouço um latido e coloco um ponto final


 
 
 

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