Sexta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com a escritora e poeta Sylvia Cesco, com seu poema intitulado Linha de Chegada.
Linha de chegada
Sylvia Cesco
A menina lia e relia
todos os poemas
que cuspiam lágrimas
no armário antigo
de uma casa antiga.
Lá fora, lagartas ciscavam ariscas
a grama derretida pela semente germinada
-(e nem era ainda tempo de um tudo ou de um nada. )
esperando que uma delas fosse
a mosca viva ou morta, pouco importa.
A menina cantava e encantava os bichos-aves
com que ela se encontrava
pra ver se eles lhe ofertassem suas asas:
-não davam, e o jeito então era inventá-las
mas não era igual: todas elas lhe pesavam.
A menina-moça amava
e desamarrava amores
pois que nunca foram feitos para amarrios
haveriam de ficar ali pousados
em sedosos fios,
donos absolutos das suas chegadas
e das suas partidas:
- sábia receita pra não se sentir ferida.
A mulher galopeava e apascentava
sua estrela-guia
para que pousasse pacífica e invisível
sobre a água de vidro :
ela era a sua líquida espera
que lhe cortava e lhe sangrava
sem condescendência.
Mas por ser menina e por ser mulher,
e não um cordeiro seguindo para o abate,
escolheu fazer da poesia a sua essência
e terminou a corrida, guardando sua fé
combatendo finalmente o bom combate
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